No final do mês de novembro, Miley Cyrus recebeu Zane Lowe da Apple Music em sua casa em Los Angeles onde conversaram sobre a nova era da cantora e seu mais novo álbum que foi lançado no último dia 27 (sexta-feira).
A seguir, você confere a tradução completa feita pela equipe do Miley Cyrus Brasil:
Tradução: Débora Brotto, Letícia Abreu, Pedro Onofri e Welison Fontenele – Equipe MCBR
Zane Lowe: Esse lugar é legal!
Miley Cyrus: Muito obrigada. Em algum momento essa parede vai embora e eu vou fazer um deck de composição lá fora porque eu gostaria de sair e temos um pequeno lugar lá fora… Mas minha mãe veio aqui e enfeitou o lugar e ela está obcecada em colocar fotos minhas com todas essas pessoas em todos os lugares, então isso é o que mães fazem.
Zane: Eu amo como você veio direto ao assunto e apontou para as coisas que eu apontaria e justificou sem eu ter falado nada.
Miley: Minha mãe veio aqui hoje eu fiquei tipo “yo por quê?” ela só quer que eu tenha orgulho dos meus momentos, mas isso é fofo na casa dela, na minha casa eu me sinto como num dentista sabe quando você vai lá e pensa “eu não me importo com quais dentes você limpou”.
Zane: Você vai a esse dentista também?
Miley: Sim, você pode limpar os dentes ou não? Não me importo com as fotos na parede.
Zane: Como você está?
Miley: Eu estou muito bem. Eu estou feliz de estar conversando com você.
Zane: Eu também.
Miley: Eu estava pensando que é bom, na verdade, de todas as vezes que o Covid tem sido tão difícil para todos, seja para pegar a doença fisicamente ou apenas mental e espiritualmente ou então muitas pessoas estão sentindo ansiedade e medo, mas a única coisa boa é trazer você para o meu estúdio, trazê-lo para a minha casa, nunca fomos capazes de sentar onde a música realmente me pega.
Zane: Quando chegou ao meu diário, eu fiquei tipo “onde vamos fazer isso?” e eles falaram “bem, na casa da Miley”, fiquei emocionado porque você está certa, começou no nosso lugar e depois se transformou em uma conversa pela internet.
Miley: Sim, eu não gosto disso, especialmente com você e eu. Você quer ter uma conversa de verdade e eu acho que o tempo é tudo. Aprendi que seja no amor, nos relacionamentos ou apenas na comédia, quero dizer, apenas para fazer as pessoas rirem, para fazer as pessoas chorarem. Há um momento para tudo isso e quando você ama esse momento e essa conexão e essa consciência de tudo bem, estou sentindo o que você está sentindo e você está sentindo o que eu estou sentindo, quando você perde isso, eu acho que é o que está causando alguma ansiedade e medo porque há um desconhecimento da resposta que você perde quando você está falando através de uma tela.
Zane: Bem, o cerne da ansiedade e dos medos é um desejo de controle e colocamos isso na mesma conversa sobre o momento e é por isso que quando as coisas acontecem com você é tipo “oh, eu estou tendo o pior momento”…
Miley: É.
Zane: “Não posso acreditar que desta vez isso aconteceu” e é interessante que você olhe para isso de uma perspectiva diferente, como na verdade eu me apoio no conceito de tempo, mesmo que na hora pareça um momento ruim.
Miley: Eu também acho que há algo sobre você meio que cair no momento certo e eu acho que houve momentos em que eu queria me apressar e momentos em que eu queria esperar e há apenas temporadas e esse álbum foi isso para mim porque eu realmente fui paciente e paciente. Você provavelmente recebe muitos adjetivos sobre mim, das coisas que eu sou, menos paciente. Eu não acho que se você perguntasse a alguém ao meu redor sobre o que eu sou, isso seria ser paciente.
Zane: Você foi meio que empurrada nessa direção porque é tão engraçado que eu estava pensando na última vez que realmente conversamos, sobre o seu último álbum que foi o “Younger Now” e é engraçado esse título porque eu acho que você era realmente você e estava em uma missão de amadurecer e construir uma vida para si mesma para se estabilizar e você chamou aquele álbum de “Younger Now” e tudo parecia muito estranho e em 2018 a coisa toda ficava de cabeça para baixo enquanto você escrevia de forma tão pungente em suas notas e eu penso sobre isso. Isso é um empurrão para a paciência porque isso é sobre perder o controle, você não pode controlar isso, deve ter sido um problema olhar para trás agora, um dos eventos mais significativos de sua vida que disparou.
Miley: Eu anoto tudo, meu pai sempre diz que quando você escreve, quando você diz em voz alta você dá poder, você começa a criar no minuto que você escreve, então eu anoto tudo. Acho que foi um empurrãozinho para ter paciência, mas agora é parte do meu caráter e é algo de que realmente me orgulho e sinto que mereci ser paciente e, por mais que haja algo que vou sentir falta, do que ganhei, a paciência é uma das coisas que valeu a pena, de certa forma. Encontrar um equilíbrio entre sentir-se isolado, mas ainda ser capaz de me conectar. Eu nunca gostaria que alguém dissesse “ela simplesmente não estava lá comigo” eu tenho um problema com as pessoas que pensam que estar protegidas ou se protegendo de alguma forma é desapego porque se você não se protege então tire todas as fechaduras de sua casa e deixe as chaves no carro.
Zane: Claro!
Miley: Não use sapatos nos pés.
Zane: Você também tem o direito de guardar algo para si mesmo, quero dizer, é você ou você mesmo antes que alguém entre em sua vida, no final das contas, você sabe, a família que você tem e mesmo assim, no minuto em que você nasce, é sua jornada e eu me pergunto. Sempre quis te perguntar isso, agora que você atinge um estado mais elevado de autoconsciência através do aprendizado, através da música, através da sua vida, através dos relacionamentos através de tudo isso através da maturidade, você olha para trás agora para o que você foram contados pelos pais como você agia quando criança, o tipo de criança que você era, você sabe, todos eles tinham essa memória, você sempre foi assim?
Miley: Não, quer dizer, eu não sou a pessoa que eu era ontem, sabe, ontem à noite, sentada atrás de você, conversando com Stevie Nicks no telefone, aquilo me mudou para sempre, tudo me muda pra sempre e eu nunca vou ser quem eu era ontem e de alguma forma, toda noite que eu vou dormir eu digo adeus para mim mesma porque é tipo “‘essa pessoa já se foi” e tem uma tristeza nisso as vezes porque eu evoluo muito rápido porque eu sou muito absorvente, eu apenas trago tudo para dentro. Recentemente eu tive que fazer um inventário do que eu possuo como meu que não é meu porque, como você disse, seus pais, ou a geração ou o jeito que você é criado ou o que realmente é passado pelo DNA, personalidade, caráter, até medos.
Zane: Sim, natureza versus natureza, com certeza.
Miley: Sim, exatamente, natureza versus natureza e nós somos uma equação de todas essas coisas, adicionando outras coisas, sabe, os outros três anos eu chamei de “o coquetel do caos” porque foi como o pior bartender, que era o universo, as vezes só ficava derramando as merdas e você ficava tipo ‘ai meu Deus’.
Zane: Eu não consigo beber mais essa merda.
Miley: Sim, e você fica tipo, tonto frequentemente.
Zane: Sim, é isso que eu quero dizer, quando conversamos em 2017 e o álbum estava pra sair, e você estava tipo ‘deixa comigo, o relacionamento, o álbum, a sua vida, eu sou boa’ e ai *(som de desabamento)*
Miley: Sim e aí a vida ri e é tipo ‘ainda não acabou’, eu odeio dizer, mas também amo, quando você faz um plano que a vida ri pra você porque… Eu acho que há algo para ter uma ideia do que você quer e como definir uma meta e ver isso, você sabe, eu sonho muito acordada e gosto de ver tudo acontecer, mas sem me deixar abalar completamente.
Zane: Consumi-lo ao ponto de não haver outras opções.
Miley: Exatamente. E eu nunca deixo uma ideia ou uma agenda determinar minhas escolhas criativas. Eu fiz um álbum, você e eu conversamos durante “Younger Now” e eu ia fazer um projeto de 3 EPs, que eram maravilhosos, eu estava apaixonada pelas músicas, mas aqueles 2 EPs não eram mais relevantes e apesar de eu amar as músicas pelo o que elas eram elas perderam a relevância, então pra mim eu não posso nunca divulgar elas.
Zane: É a única coisa que você fez nessa equação que não corresponde ao que você faria agora, é você anunciá-la.
Miley: É.
Zane: Quando você o anuncia…
Miley: Você ganha poder sobre isso…
Zane: Sim, esse é o plano e então fica de cabeça para baixo. Eu não percebi que você perdeu coisas.
Miley: Sim, todo computador, todo diário, toda música que eu tinha escrito, sabe, e eu escrevo muitas músicas que ninguém nunca ouve, elas são apenas para mim, na verdade. Ontem eu estava com um livro da Joan Jett e eu estava olhando algumas fotos dela, tendo inspirações e nós temos a mesma caligrafia e eu percebi que era a minha caligrafia, eu usei o livro dela como meu diário de escrita de músicas, então se eu não tenho nada, eu pego um CD e escrevo nele e eu estava tipo “cara eu e a Joan temos muita coisa em comum eu até tenho a mesma caligrafia dela”, então eu percebi que era a minha própria caligrafia. É, eu não lembro dela escrevendo sobre ir para o espaço com um astronauta. Então isso foi no estúdio de gravação, eu tinha um livro aqui nestes controles, esse controle sobreviveu ao fogo, esse é do meu estúdio em Malibu e meu pai ficou tipo “posso pegar ele pra mim?” e eu fiquei tipo “cara, é a única coisa que temos que sobrou” foi o meu console, é meu. E ele ficou tipo “eu sei, mas acabei de comprar o compressor perfeito, preciso de um lugar para colocá-lo”… Você vai ter que ter seu próprio console. Porque meu estúdio foi a única coisa que sobrou, então este tipo daqui, aqueles sinais, aqueles eram…
Zane: Isso é um sinal, certo?
Miley: Só me restou meu estúdio, só isso, só sobrou minha música.
Zane: Uau.
Miley: Estranhamente, sabe, eu não tinha meus diários de escrita de música no meu estúdio porque para mim nunca é o lugar onde eu escrevo músicas. Eu nunca escrevo uma música no estúdio.
Zane: Posso te fazer uma pergunta esquisita que eu nunca fiz para ninguém porque é uma experiência única que você passou, algo que é meio traumático e que sacode a vida. Como é quando você caminha por um lugar que costumava ser seu lar?
Miley: Cara… Quer dizer… Uma parte de você quer começar a cavar nas cinzas e encontrar o que quer que tenha sobrado, então parte de mim queria fazer isso e parte de você cria as paredes e o que estava lá, você quase que consegue ver fotos, quer dizer, acho que é algo dos músculos da memória, você começa a colocar tudo de volta e então uma parte de você está pacífica, e eu sou muito privilegiada porque eu sabia que eu teria um lugar para ir, eu não ficaria sem teto.
Zane: Então a sua segurança estava verificada.
Miley: Minha segurança está bem, e eu sei sobre isso na minha vida e eu nunca paro de ser grata por isso. Minha vida é extremamente única e algumas vezes eu me sinto extremamente privilegiada e eu tenho minha própria culpa com isso e estar ali teve uma leve sensação de paz sabendo que não tinha nada que eu pudesse fazer sobre isso porque teve momentos em que o meu desejo de controle foi capaz de criar essa marca autêntica, eu nunca faço nada que eu não quero fazer, minha música é exatamente o que eu quero que seja. Estar no controle, muita das vezes trabalha ao meu favor, mas também ser obcecada com o controle pode ser prejudicial apenas por estar dentro do plano que o de cima tem para você, então eu batalho com isso, mas me senti mais em paz sabendo que não tinha nada que eu poderia fazer sobre isso, então eu peguei essa paz e tentei achar um espaço porque tem outros bilhões de momentos na vida que você não vai conseguir fazer nada. Ter essa liberdade agora de não ser tão apaixonada pelo controle tem sido muito bom para mim.
Zane: Sim, é engraçado você ter falado sobre isso porque, se eu passar, ler e disser sobre a escolha dos eventos que todos nós vimos e ouvimos, esse é o negócio de ser um artista, eu suponho que esse material seja divulgado aqui. Parece que os momentos em que as coisas a levaram em uma direção totalmente diferente são os momentos em que você esteve do lado de fora, tendo o controle completo.
Miley: Sim, eu prosperei no caos um pouco e eu não gosto de tomar decisões, essa é uma das coisas que eu não gosto, se alguém me chamar para jantar, você escolhe. Eu não gosto de tomar decisões.
Zane: Isso é chato.
Miley: Eu não gosto de tomar decisões, porque eu realmente fico feliz em qualquer lugar.
Zane: Até que você não fique…
Miley: Até que eu fique tipo “esse lugar é horrível“, mas eu realmente gosto das pessoas que… Quer dizer, quando se trata da minha música, da minha construção, eu gosto muito de fazer minhas próprias escolhas e fazer minhas próprias artes, mas esse isso não é um tipo de decisão, pra mim não é decisão, provavelmente são decisões muito grandes se você não está acostumado a fazer isso o tempo todo, mas fazer música pra mim não é uma grande decisão, é apenas algo que vai fluindo constantemente, então eu gostei de nunca ter que ter me despedido da casa, ela apenas disse tchau para mim, não tive escolha e eu gostei dessa parte do processo de não tomar decisões.
Zane: Então, faz um ano, quer dizer, se esse ainda é o caso, e sem julgamentos, mas pelo o que posso dizer faz um ano que você escolheu ficar sóbria, certo? Você decidiu deixar sua mente limpa.
Miley: Sim.
Zane: Como você se sentiu quando você começou a acordar e perceber que isso estava funcionando?
Miley: Bem, eu, como muitas pessoas, sendo completamente honesta, durante a pandemia eu tive uma recaída e eu nunca ia sentar aqui e dizer “eu fiquei sóbria” e eu não fiquei e eu tive uma recaída e eu percebi que agora eu estou de volta à sobriedade, duas semanas sóbria e sinto que eu realmente aceitei esse momento e uma das coisas que eu uso é “não fique furioso, fique curioso”, então não fique bravo com você mesmo, mas pergunte pra você mesmo o que aconteceu.
Zane: Isso não é um passo em direção à moderação? Tipo, não estou tentando falar por ninguém aqui porque todos têm suas próprias batalhas e algumas coisas afetam as pessoas de formas muito diferentes, eu sou da Nova Zelândia, moderação está no nosso sangue, então, sabe, da minha perspectiva se você está curiosa, então por que você precisa fazer uma declaração.
Miley: Eu acho que não escolhi fazer uma declaração, eu lembro que foi há alguns meses atrás, eu estava fazendo uma entrevista e uma conversa surgiu e eu acho que falei como eu estou falando agora com você e algumas vezes eu esqueço que…
Zane: Acho que pode ter sido comigo.
Miley: Pode ter sido, tipo uma conversa de verdade, igual eu disse agora “olha eu fodi com tudo, não fiquei sóbria nos últimos meses” e pra mim isso foi um estrago, eu não sou uma pessoa moderada e eu não acho que todo mundo tem que ficar sóbrio, todo mundo tem que fazer o que é melhor para eles. Eu não tenho um problema em beber, eu tenho um problema com as decisões que eu tomo quando eu passo do nível de sabe… Eu só queria acordar 100% do tempo e eu fico digitando números e procurando pessoas que eu me afastei de propósito e quando a gente bebe, algumas vezes é como se não tivesse um futuro, tudo que você quer agora… Eu me torno muito impulsiva.
Zane: Nós todos estamos passando pela mesma coisa, nós todos somos esse tipo de experiência maleável, você veio deste mundo quando era muito nova e tudo era “você não pode ser maleável”.
Miley: Sim, eu sei, exatamente.
Zane: É uma observação muito óbvia, desculpa se isso for puro clichê, mas você pessoalmente planeja isso? Algumas formas de como você deseja se libertar e apenas viver o momento. Isso pode remontar a essa ideia de que você tem que se abotoar aqui, você tem que fazer as coisas da maneira que são feita.
Miley: De alguma forma eu me sinto muito grata que eu tive todo esse treinamento e toda essa experiência.
Zane: Como assim?
Miley: Porque… Eu pensaria que eu sou muito diligente e se eu quero algo, normalmente eu consigo e isso me ensinou muito sobre isso, eu sou muito resiliente, sabe, eu gosto muito das qualidades que vieram embutidas em mim com minha educação, a qual não foi normal.
Zane: Você é disciplinada?
Miley: Eu sou muito disciplinada, por isso nunca é fácil, mas para mim é fácil estar sóbria ou não porque no dia que eu não quero fazer mais, eu não faço, no dia que eu quero, eu faço e quando eu não quero, é assim, eu sou muito disciplinada e tem algo nisso que eu realmente gosto e eu diria que tem um nível de profissionalismo que eu traria para qualquer trabalho, mesmo que seja eu trabalhando em um restaurante, eu seria totalmente obsessiva em ser a melhor e sabe, tem algo nisso que eu realmente gosto.
Zane: Tem um botão que você muda então, eu já vi você ligar isso quando você fica tipo ‘eu vou dominar essa sala’ mas eu também vi você aparentemente entrar em uma sala muito segura, sabendo que você pode fazer aquela coisa disciplinada.
Miley: Isso é confiança.
Zane: E aí ficar tipo ‘eu vou fazer o contrário, eu vou jogar fogo nisso’.
Miley: É ter uma segurança que… Costumava ser capaz de invocar e encontrar e agora tenho momentos de fraqueza e a minha humanidade às vezes toma conta, mas a maioria das vezes há um nível de segurança e eu vejo isso toda vez que eu estou com medo, eu imagino Glastonbury, e faz você querer rastejar para um buraco onde ninguém pode te encontrar, eu não queria subir naquele palco, eu estava com tanto medo, eu nunca estive tão apavorada na minha vida.
Zane: É assustador! Eu já estive naquele palco, é assustador.
Miley: Eu não rezava em 10 anos, eu rezei, eu juntei minhas mãos e fiquei de joelhos pensando “por favor”, eu estava pensando na verdade que teria um ataque cardíaco, tipo, eu vou realmente cair no chão e desmaiar, porque a maioria das vezes eu imagino e me vejo fazendo isso, já feito, eu vejo como se já estivesse sido feito e eu não conseguia ver isso, e tudo que eu ficava dizendo era que eu não tinha nenhuma premonição sobre isso, eu não conseguia ver. Eu estava muito apavorada, e quando eu pensei nisso estava tudo preto, eu não conseguia ver isso. Felizmente, fazia sentido que meu pai viesse porque ele cantou Old Town Road, mas na verdade eu só que o meu pai, eu estava com medo, eu nunca chamo meu papai quando eu estou com medo de algo em 15 anos e eu estava tipo ‘eu estou com medo’ e quando eu estou apavorada eu sinto um caroço na minha garganta, sabe, um caroço no seu pescoço, meu coração subindo aqui, meu estômago aqui, eu realmente imagino Glastonbury e eu encorajo todo mundo a nomear seu próprio Glastonbury, o que é a coisa mais assustadora que você já fez e passou por isso? E isso não precisa ser uma perda, sabe, eu acho que um dos meus maiores medos era perder minha avó, que está tatuada no meu braço, ela tomou conta do meu fã clube por 10 anos, minha vó me levava para fazer tudo, ela literalmente abria todas as cartas dos fãs por 10 anos, todas, e escrevia de volta “com amor, da vó da Miley”, toda vez, e perder ela… Isso pode ser seu Glastonbury, sabe, não precisa ser isso, pode ser qualquer coisa, qual foi a coisa que você mais estava com medo e você atingiu o objetivo? E encontre isso, sabe, é como encontrar a paz em um incêndio quando você está em cima das cinzas da sua casa e eu encontrei uma paz. Você pode treinar o seu cérebro à encontrar isso de novo, sabe, esse sentimento, e eu encorajo você a colocar um alfinete nas coisas que você conquistou e tentar colocar você de volta naquele momento.
Zane: É muito bom estar nessa casa porque aqui realmente parece você, apenas de andar por essas áreas do estúdio e olhar em volta e ignorar as fotos fofas e comoventes que sua mãe empilhou.
Miley: Eu sei, como o consultório do dentista.
Zane: Elas estão perfeitamente colocadas, é meio tipo…
Miley: Coisa de mãe.
Zane: Totalmente e isso parece muito que você mora aqui e eu nem sempre tenho essa impressão, sem querer desmerecer ninguém, mas fico tipo “ah, você faz turnê demais, aqui não parece sua casa”.
Miley: Sim.
Zane: E tem você escrita nela toda. A ideia de ‘casa’ mudou pra você quando você perdeu sua casa e passou por um momento de muita significância pessoal? Tipo, o que é uma casa agora?
Miley: Uma casa pra mim pode ser qualquer lugar, de qualquer tamanho que qualquer pessoa que entre naquele espaço ele sabe que é seu e eu acho que você não pensaria que ninguém além de mim moraria aqui. O motivo para ter uma tela enorme atrás da gente é que eu gosto de criar animações sabe, para que eu possa animar aqui, para que eu possa editar meus vídeo clips, e eu acho que é algo sobre permanecer no lugar onde a música é feita, porque meio que isso mora aqui pra sempre. Sabe quando você anda por uma casa histórica ou um marco histórico e você consegue sentir a sua história, eu me sinto da mesma forma com meus estúdios e meus espaços, mas de novo, permanecendo com aquela leve proteção e um leve desapego sabendo que isso tudo pode ir embora e tudo são coisas e quando eu for embora pode ser de outra pessoa.
Zane: Esse violão acústico não parece…
Miley: Esse é novo, um Martin 1957.
Zane: Isso é louco.
Miley: Sim, muito louco. Então, eu também tenho essa, ela é de 1969 e ela é loira, e eu gosto que ela é loira, essa é minha cor favorita.
Zane: Você toca elas?
Miley: Sim, eu as toco.
Zane: Tem várias referências musicais nesse álbum, Plastic Hearts, eu estou tão animado como fã, e a forma como você lançou, eu achei que os EP’s seriam interessantes, mas quando eu ouvi que você iria fazer um álbum, eu fiquei tipo “tudo bem, agora estou ansioso pelo álbum completo”.
Miley: Eu acho que a Era “She is” é uma forma de representação do meu medo de me comprometer quando estamos falando de… Na verdade o que você disse é perfeito quando estamos falando de um álbum completo, “essa é quem eu sou” e quando você faz um álbum, como eu costumava fazer, você precisa gravar aquilo pelo menos um ano e meio antes de todo mundo poder escutar. E você está distante de tudo que aconteceu, o tempo cura tudo. As músicas que estão cheias de amor, dor ou vida não fazem mais sentido pois esses sentimentos não estão mais atrelados a essas memórias. Eu sempre odiei fazer álbuns físicos, e eu estou tão feliz que nós esquecemos isso e agora temos um novo jeito de lançar música.
Zane: Especialmente você que diz tchau pra você mesma toda a noite.
Miley: É isso que eu estou dizendo cara, eu mudo diariamente. Eu realmente não gosto quando as pessoas dizem que eu sou inconstante ou “você não se decide”. Na verdade já tive uma discussão com Watt sobre isso porque eu disse “se eu disse algo há cinco minutos, isso foi a cinco minutos atrás quando eu acreditava nisso” e falam “não é justo viver uma vida desse jeito”. Mas tudo bem você ser uma artista assim, mas como uma pessoa, como uma amiga…
Zane: Ele só estava querendo tirar onda com você.
Miley: Ele é mestre em fazer isso, eu já percebi. Mas eu já tive muitos relacionamentos, amizades e colaboradores, pois eu deixo me envolver muito rápido e mudo muito rápido, tudo que acontece muda minha experiência, eu vou ser diferente amanhã por conta disso, pois pode ser que eu perceba algo ou algo que estava aqui dentro precisava tipo..ser lançada para fora. E agora eu não sinto mais isso.
Zane: Isso é muito de momento. Eu tenho escutado as pessoas se descreverem a muito tempo. Você fala sobre colocar pra fora todas essas coisas e nesse álbum, Plastic Hearts, eu vou de encontro a um relacionamento duradouro, sem dúvidas, e é muito brutal. Tem letras nesse álbum que eu fico tipo “uau”, é um senso de autoconfiança muito sério. Eu nunca mais vou ser essa pessoa que você quer que eu seja, eu nunca vou ser essa pessoa confiável que você quer que eu seja.
Miley: Isso é tão engraçado pois de todas as músicas Never Be Me é uma música que, até Mark, se sentiu desafiado quando eu escrevi. Mark Ronson fez uma dos arranjos mais bonitos, pois era algo muito simples. Ele é o cara que você tem uma experiência totalmente diferente, não é com Watt ou Mike Will em Bangerz, ele não tem uma biblioteca de sons, Mark é o arranjo. Ele não chega no estúdio e fica experimentando um monte de batida, e dizendo “escolhe uma”, ele não vai testando batida por batida e vendo qual a melhor. Ele faz batidas customizadas, e eu adoro isso. Então foi algo muito simples e as palavras literalmente começaram a sair de mim.
Zane: Tem que ser assim porque você não se senta e pensa.
Miley: Na verdade eu tive uma conversa intensa sobre essa música outro dia porque os homens acabaram notando essa música do álbum mais que as mulheres, foi tipo meu momento Bonnie Tyler . E era sobre isso que eu estava escrevendo, e eu pensei que as mulheres falariam “yahhh isso sou eu”, mas na verdade os homens pensam “você está apta para ser essa pessoa?”. Eu viajo muito nas minhas músicas, mas é assim como eu penso nas músicas. Quando eu escrevo uma música como essa eu capturo algo que está dentro de mim, eu meio que chamo de tentação ou uma parte um pouquinho má, mas não é algo ruim ter esses pensamentos. Mas é algo que não precisa ser quem eu sou, mas eu tenho que capturar esse sentimento momentâneo que eu tenho como um vagalume, e tê-lo para mim e admirar, mas não precisa vir de mim ou ainda ser parte de mim. Mas eu sou muito orgulhosa da minha lealdade por aqueles que eu amo, por exemplo os animais, quando eu amo eu sou muito leal, você pode ver isso de mim sempre que me ver ou perguntar para minha equipe, eu sou uma pessoa leal. Mas tem momentos que você pensa “será errado ‘walk in the like, lay with fire’” e eu me senti dessa maneira, então eu tento capturar isso e não preciso me sentir mais dessa maneira.
Zane: Então de uma maneira você se sente honrada pois existe uma parte de você que não precisa mais estar em você. Isso é sua marca, se você não consegue se expressar por meio dos seus pensamentos e transformar em música, em arte, em expressão isso fica com você e apodrece e pode se tornar algo maligno, pode se tornar um problema na sua vida. E quando você lança, te mantém equilibrada e outras pessoas escutam e elas não se sentem sozinhas. Essa é sua marca.
Miley: Você se sente menos sozinho quando escuta músicas como essa, você pensa “isso é natural, eu sou humano, ela é humana, eu sou humano”. Apaga o espaço que tem entre o artista e a audiência, eu não gosto desse espaço. Eu quero ser parte deles. Na verdade, eu não gosto da ideia de audiência, eu prefiro falar ouvintes, eu não gosto das palavra fã, porque pra mim essa carreira tem sido tão extensa, da idade que eu comecei, sabe? Da idade que você está, para o tempo que eu iniciei, minha audiência tinha doze anos. Eles me conhecem muito bem. Nós temos um relacionamento muito íntimo.
Zane: Mas você colocou essa barreira abaixo.
Miley: Sim, eu não gosto dessa barreira.
Zane: Mas é um espaço transparente para você viver, se você for transparente e remover esse espaço entre você, palco e multidão, metaforicamente falando, você tem que mostrar tudo, você tem que mostrar coisas boas.
Miley: Foi por isso que eu criei um palco na forma de C na Bangerz Tour e era baixo, alguns metros abaixo que o palco, pois eu não queria que as pessoas olhassem para cima para olhar para mim, é algo estranho, eu não quero isso, eu quero algo “estamos conectados”.
Zane: Isso faz a gente voltar no que você já disse sobre como você se sente culpada sobre segurança em relação com que você vem construindo com as pessoas que você convive.
Miley: Escrever uma música como Never Be Me é um sacrifício, uma escolha que eu entreguei. Pois algumas das músicas que eu escrevo, eu não ignoro a dor que elas podem causar nas pessoas e muitas vezes eu tenho que escolher se vale a pena lançar isso, mas eu digo lançar não para todo mundo, mas para mim, permitir esse sentimento ou esse sentimento sair porque me dá poder, como meu pai disse “você escreve e você canta, você ganha poder”, é algo real agora, é mais que pensamentos em sua cabeça. Uma das coisas que está acontecendo muito comigo, são as vozes na minha cabeça, eu acho que tem três de nós aqui, tem o anjo e tem o demônio. Um fala “isso é o que eu realmente quero. Sim, mas se você fizer isso a repercussão…” e tem uma pessoa sentada atrás só observando. Isso é como uma teoria por trás, se você for o ouvinte, você é o que escuta as vozes dentro da sua cabeça, elas não são você, pois você está às observando, é como agora, você está tendo os mesmos pensamentos que eu agora, pois eu estou te falando e você está computando tudo, mas você não sou eu, então as duas vozes na sua cabeça não são você. Então a única coisa que elas fazem é criar uma perspectiva para você, meio que narra sua vida, e talvez ajudem a digerir tudo que está acontecendo é quase como um computador, mas elas não são você. Então as vozes na minha cabeça, talvez, sejam as que escrevem algumas dessas músicas, mas não é necessariamente eu que esteja observando, não sei se isso está fazendo sentido, você já leu “A Alma Indomada”? É da onde esse conceito vem.
Zane: Isso cria uma linha tênue entre a auto obsessão e narcisismo que as pessoas acabam percebendo que existe o egoísmo ou incapacidade de ver o que está na sua frente porque estão consumidos por essas vozes mas até você perceber, ler esse livro, você começa a analisar e identificar qual o melhor caminho tomar. A maioria das pessoas se inclinam pro lado destrutivo para calar as vozes, você reconhece esse comportamento? Isso fez parte dos motivos pelo qual você se encontrou em alguns problemas? Já que você estava tentando enfrentar.
Miley: Com certeza, eu acredito que meus experimentos, vou chamar assim, com drogas, álcool, tudo isso foi eu mas, às vezes eu também queria usá-los como desculpa e deixá-los correr de uma maneira que eles pudessem me permitir a fazer coisas que eu nunca me permitiria fazer porque eu tinha essas vozes que me controlavam. E eu acho que agora minha vida mudou realmente pois eu não sou a voz dentro de mim, eu estou apenas observando porque tem uma parte disso. Na verdade, o livro explica que se você nunca deixar ir essas coisas físicas, você nunca vai deixar as vozes da sua cabeça, elas nunca vão parar. Quando estou assistindo um filme elas ficam “eu desliguei o fogão”, se um amigo estivesse lá “você fez isso hoje? Você colocou gasolina?”, você ia pedir para ele se calar. “Eu só estou querendo assistir o filme” ou “Vá lá fora olhar meu jardim” ou “Estou só dando uma volta com minha mãe”. A coisa que me fez acreditar nessa teoria é que realmente tento me equilibrar, igual quando minha mãe perdeu a mãe dela. Um dia eu estava dirigindo meu carro perto da praia com minha mãe, e eu estava pensando sobre algo totalmente diferente, eu não estava lá, eu estava lá com ela fisicamente apenas. Eu estava pensando sobre as músicas que eu tinha que produzir “eu realmente gosto do jeito que Hate Me soa?”, eu ainda fico um pouco chateada sobre a escolha que tive que fazer na última estrofe de Hate Me, isso ainda me incomoda. Então, sentada aqui eu penso “eu realmente deveria ter dito para Bell que não gostei disso”. Então eu estava sentada lá e pensando sobre isso, e aí pensei “você sabe o que a minha mãe faria para estar sentada com a mãe dela dirigindo na praia agora?!”, citados esses fatos, vemos que essas duas vozes estavam tentando roubar esse momento de mim. Eu não sou eles. Então, eu sou a presença que estava sentada observando, naquele momento, eu estava em paz onde eu estava.
Zane: Isso exige disciplina.
Miley: É isso que eu almejo, eu tenho me ajustado muito rápido. Uma vez que eu tenho ciência disso, eu absorvo pois é muito fácil para mim colocar em prática.
Zane: Não tem uma parte de você que não seja baseado no que eu escuto e no que eu leio, principalmente no que eu escuto na sua música, isso mostra que você é disciplinada.
Miley: E destrutiva. Quando não encaixa mais ou não sinto mais essa parte em mim, eu quero dizer que, isso é parte da mudança constante de cada segundo, cada segundo me muda muito o que é aterrorizante para todo mundo que tem experiência comigo. Eu sou minha melhor amiga mas eu não sei se gostaria de ser minha melhor amiga se eu não estivesse no meu corpo. Eu tive que aprender que isso não é egoísmo porque eu costumava me sentir culpada, eu me sentia muito envergonhada. E eu aprendi que culpa e vergonha são coisas diferentes, isso mudará sua vida. A culpa é algo saudável, por exemplo, se eu não usar minha máscara eu vou machucar alguém, então eu preciso usar máscara.
Zane: A vergonha é uma assassina.
Miley: A vergonha nunca vai te ajudar. Eu odeio a vergonha. Então não existe nenhuma vergonha em “Essa sou eu”, eu quero dizer que existem qualidades. Se você é destrutiva e está machucando outras pessoas, você tem que trabalhar isso em você, é um esforço constante, mas na verdade, eu quero ser minha melhor amiga. Eu seria minha melhor amiga por conta da minha lealdade, porque quando eu mudo assim, eu não deixo pessoas para traz. Eu levo todo mundo comigo, para essa jornada, você só vai ter que andar mais rápido.
Zane: Eu fiz essa pergunta para alguns artistas e a resposta foi universal, a mesma, que devem focar em se expressar por meio do seus trabalhos e aprender sobre si mesmo no momento, e aproveitar esse momento para alcançar pessoas, é que o maior sacrifício são os “relacionamentos” é o que todos dizem.
Miley: Eu concordo com isso, eu diria que isso é totalmente correto. Essa ideia é muito correta. Temos que passar por isso, mas agora eu não sou mais uma pessoa vaga, você tem que ir fundo e dissecar isso porque de uma maneira os relacionamentos que eu entrei, e eu sei qual relacionamento as pessoas mais falam, pois nossas mentes e nossas vidas giram em torno do amor. E é tudo que nós queremos. Mas quando você enxerga todos os tipos de amor que você tem em sua vida. Tem momentos que é solitário, e eu entendo, eu entendo que queremos ter uma parceira, e entendo as pessoas que querem construir famílias. Eu realmente entendo a procura por amor, mas para mim, apenas para mim, é uma honra encontrar. Por exemplo, animais se juntam, isso é instintivo, não é uma escolha programada. E eu tento não ser sempre uma servente para essa programação, pois isso para mim é algo enraizado e embutido, provavelmente todas as mulheres da minha família, antes de mim, provavelmente ficaram com alguém, e isso tá enraizado em mim mas eu não quero isso para mim. Então eu posso me desconectar, bem isso é o que eu supostamente deveria querer mas eu não quero, e estou bem com isso. Eu quero assim. Sentada aqui agora, eu estou tão feliz de sentar aqui com você pois não tem nada que eu fique sempre tipo “bem, se eu tivesse isso estaria melhor”, sempre poderia ser melhor. Sabe o que eu aprendi com alguém? Quando estão falando sobre a hora certa, isso de hora certa não existe, nunca é um bom momento para falar sobre uma casa que pegou fogo, nunca é um bom momento passar por um divorcio, nunca é um bom momento para sua avó morrer, nunca é a hora certa. Acontece quando tem que acontecer, é só aceitar, não vai ser fácil. Eu sempre me permito sair da zona de conforto ultimamente e a solidão…
Zane: Você já fez isso?
Miley: Eu realmente desligo todos os meus aparelhos, tudo na minha casa, sem televisão, sem celular, sem computador, eu desligo tudo, sem música, apenas sento e deixo vir porque vai vir. Isso dói, é torturante. Eu acho que fiz isso três noites atrás e fiquei sozinha soluçando, e eu me sinto tão ótima no dia seguinte porque você não pode fazer isso para sempre, nós vivemos em sociedade onde somos obrigados a socializar, socializar, socializar.
Zane: Distração, distração, distração.
Miley: Não podemos fazer isso.
Zane: Não pense no passado, não pense no passado.
Miley: Nossos ancestrais tinham cerimônias de um mês quando alguém falecia, eu lembro que no dia que minha avó faleceu, Midnight Sky tinha saído a dois dias, e eu ia perder entrevistas e algumas pessoas perguntaram “você acha que conseguiria fazer essa?’’. Vocês realmente estão perguntando isso? Minha avó e minha mãe foram adotadas, então se minha avó não tivesse adotado minha mãe… É tão louco… As pessoas têm afeto mas você quer seus próprios filhos, eu vim de uma mãe que foi adotada, e por conta da minha mãe eu amo tanto quem pegam crianças e as fazem sentir que são delas e as dão uma família para fazer parte, esse alinhamento cósmico é louco.
Zane: Deve mexer muito com sua cabeça.
Miley: Mexe com minha cabeça, porque ela escolheu minha mãe, de alguma maneira, eu me arrisco a dizer que foi mais milagroso que ter seus próprios filhos, porque a maneira que você realmente pode se tornar mãe de alguém que sabe… Biologicamente o DNA…
Zane: É a natureza acabando com ela mesmo.
Miley: Sim, exatamente, eu não tenho dúvida que minha avó é minha avó. E eu gosto tanto dela. E isso é uma coisa que amo. E em relação a questão de relacionamento ao invés de permitir os mesmo modelos, eu tento pressionar o botão de reiniciar-los, nós somos tipo inteligência artificial.
Zane: Quando você começou com esses pensamentos? Eu quero dizer, quando você começou, claro que você pode dizer que isso estava borbulhando faz um tempo, mas o jeito que você descreve esse reinicio e não o que já foi estabelecido é perfeito, então isso para mim é o principal, você não chega de repente nisso, tem que ser trabalhado e você pensa “Meu Deus, isso sou eu”. Tantas músicas boas nesse álbum tem uma parte em Bad Karma que você fala sobre vida dupla, é uma letra forte.
Miley: Eu escrevi essa letra no trânsito, eu escrevi enquanto estava no trânsito… Eu comecei com “You may think I am a ghosting but the truth is I am a liar” e depois “I sell you what I tell you, but you ain’t a fucking buyer” é apenas a verdade e eu fui para estúdio e Mark, como muitas vezes, ficou passado, na verdade eu tatuei Cold-blooded porque eu escutei a palavra cold-blooded várias vezes quando eu estava gravando esse álbum.
Zane: Max te chamava de cold-blooded.
Miley: Essa vem de Milk Will quando ele fala “cara você é sangue frio” e eu disse que ia tatuar isso, eu escrevi uma música chamada cold-blooded mas não está nesse álbum.
Zane: Se estamos falando sobre cold-blooded vamos colocar na mesa a frase “I’ve always picked a giver, ‘cause I’ve always been the taker”.
Miley: “I’d rather just do it, then I’ll think about it later kiss me bad karma”. Eu escrevi a música, eu acho que estava dirigindo para casa de Mark em Hollywood, na verdade eu estava o revisitando, pois eu não tinha pensando sobre a música já que eu estava em New York no estúdio Electric Lady, e ele começou a tocar nas caixas e ele disse “aposto que você tinha esquecido ela, essa é a música que você vomitou e criou no meu estúdio” e então ele pressionou o play e eu comecei a ouvir “ah ah” e com Joan, eu tenho Joan Jett na música, e eu coloquei na música porque ele ficava dizendo “essa é melhor musica da Miley de todos os tempos” e só tem uma pessoa que poderia estar nesse álbum mais que eu e essa é Joan Jett, pois ela instalou essa mentalidade em mim. Cherry Bomb, você lembra? Eu não me importo com a minha má reputação, é sobre isso que essa música é.
Zane: Eu entendo, você deseja isso, então você não gosta porque você deseja ser livre como eu.
Miley: Mesmo a ponte quando diz “I don’t give a fuck, I don’t believe in luck, that’s why I do what I wanna do”. Na verdade eu não acredito em Karma, pois se fosse verdadeiro nós veríamos mais do que a gente vê. Eu acho que às vezes funciona, às vezes não. Para mim, eu escrevi, na verdade, quando Donald Trump foi eleito, pois nesse dia eu pensei que Karma provavelmente não é real.
Zane: Mas você não identifica que existe um ar de budismo? Aplicar alguns elementos dessa fé em sua vida.
Miley: Eu acho que você pode aplicar o karma na vida que você está vivendo agora.
Zane: Mas esse é o ponto do karma, talvez você não o veja.
Miley: Mas esse karma só volta em outra vida, foi o que eu disse, então eu vou pensar sobre isso na outra vida, então quem voltar na próxima vida lida com isso.
Zane: O que você espera de 10,15, 20 anos a frente quando estivermos velho, eu vou estar muito mais velho, você definitivamente estará velha, e olharemos para isso, o que você espera que aconteça com esse tempo? O que iremos colher?
Miley: As pessoas antes, eu acho que foi dito, que o coronavírus era igualador, eu não acredito nisso. Mostra é a divisão, mostra que saúde é dinheiro, mostra a desigualdade, a injustiça e eu acho que isso abriu os olhos, então todos os problemas vieram à tona, vieram borbulhando. Têm pipocado ainda. Quero dizer, esse vulcão estava para explodir.
Zane: Você mesma disse que às vezes você pensa que é o fim, mas na verdade é o começo.
Miley: Sim, eu não acho que acabou até realmente acabar e mesmo lá, vai começando de novo. E eu nunca acredito que acaba. Por isso escrevi na introdução do álbum e como eu anuncio o álbum é que quando algo acaba, nós normalmente falamos que é o fim, mas é o começo e eu realmente acho que seja o começo.
Zane: Bem, o álbum começa com “WTF Do I Know” e eu sei porque um passarinho me disse que foi de fato a primeira música que escreveu para o álbum.
Miley: Isso mesmo, essa foi a primeira música que escrevi…
Zane: As primeiras três músicas que você escreveu para o álbum são de fato a 1, 2 e 3?
Miley: Sim, aconteceu de estar na ordem e nem era minha intenção, mas na hora de contar uma história…
Zane: E faz total sentido
Miley: quando você está escrevendo um livro e alguém corta as páginas e depois tenta encaixar não dá certo, então faz sentido.
Zane: Bem, agora você me ajuda aqui porque “eu não quero ter outra conversa e você provavelmente não vai tocar isso” e então é muito de uma declaração. Caso você já tenha vencido, eu sempre fui um estranho e toda vez que tentou me incluir na sua turma eu não me senti confortável.
Miley: Quer dizer, quando eu digo que não quero ter outra conversa, provavelmente não vai me ouvir na sua estação, eu vou derramar uma garrafa cheia da minha frustração para dizer algo que eu não sei. Foi um pouco sobre a frustração do jeito indesculpável que escrevo minhas músicas, pode faze-las sentir, eu não sei, talvez num espaço mais alternativo, especialmente esse último álbum, eu diria. E eu, como mulher, e essa ideia agressiva de “então faça isso de um jeito menos convencional porque ainda se espera uma educação”
Zane: Pra mim, como um fã, eu vou deixar isso mais fácil, você é disruptiva, é o que eu acho.
Miley: É e eu acho que quando você ouve o convencional tem uma coisa de venda ali que eu não vou nesse sentido nunca.
Zane: Você não vai e você continua lutando. Todas as vezes que eu vejo você aparecendo nessas festas, premiações é um desastre.
Miley: É verdade!
Zane: Pra mim é o reflexo musical perfeito da contradição de convidar Miley tipo você realmente quer que eu vá de novo? Você sabe o que vai acontecer. O que você está pensando no momento que você sabe que está no meio de algo, tem um lixo acontecendo que você não esperava, mas é uma merda, é o que acontece, é o que construiu.
Miley: O que quer dizer? A reação das pessoas?
Zane: Não, mesmo antes. Quando você sabe que está numa situação que algo está fora de controle e tivemos alguns momento muito bem divulgados onde a festa que você estava deu ruim e o que você pensa? Tipo por que eu vim aqui de novo ou você pensa que é por isso que foi até lá? Pra perturbar as coisas.
Miley: Eu acho que eu aprendi isso com Marc Jacobs, eu fiz um desfile com ele e eu estava falando que sou como todas as pessoas e é como eu gosto de ser tratada onde quer que eu vá. E ele estava “não, você não é” e ele continuou falando que poderia me colocar num jeans e camiseta branca e uma fila de pessoas assim e eu me destacaria. Ele me disse que eu nunca me misturaria, sempre me destacaria, mesmo que decidisse hoje que “não quer ser mais você”, eu sempre serei eu, eu nasci com uma radiação, uma aura, tem uma força, um poder ou o que quer que eu queira chamar, então ele me mandou ainda parar de brigar com isso. Os 27 anos pra mim foi um ano que me protegi muito e por isso quis muito ficar sóbria porque perdemos tantos ícones nessa idade, é uma época tão essencial e você ou vai para o próximo capítulo ou acabou pra você e eu sinto alguns dos artistas quase não puderam lidar com seu próprio poder, energia, força.
Zane: As pessoas chamam de fama e não é
Miley: Não é fama, é energia. E eu, não importa o que, nasci com isso e quando me sentei aqui com você e aqui é onde estou ou estava com um amigo que é sem teto em Los Angeles, que Happy Hippie apoia, eu ainda seria eu e não importa mais nada. Existe uma força magnética que faz com que as pessoas queiram vir até mim e isso é quem eu sou. E ao invés de pensar isso de um jeito narcisista,
Zane: Eu preciso beber por isso, usar drogas
Miley: E isso força um erro de pensamento que é o “eu sou a melhor e ninguém é tão incrível quanto eu”. Não é assim que eu me sinto. Eu tenho tantos ídolos que me inspiro como Stevie Nicks, Joan Jett, Debbie Harry que eu nunca vou parar de querer deixar minha arte perfeita, eu nunca me acharei perfeita, eu nunca fico satisfeita. Mas é assim que é. Eu vou me fortalecer não importa o que e eu abracei isso ao invés de correr disso tentando sabe…
Zane: Entrar na turma
Miley: É, quero dizer, eu de urso Teddy balançando minha bunda fantasiada ou não sendo, não fantasiada e não balançando minha bunda seria a fantasia também porque é o que eu sou, é como me sinto. Eu ouço aquela música e eu vejo o urso balançando a bunda então eu tive que virar ele porque é o que é. Então seria uma mentira, o que eu não posso fazer, e é isso que sou muito crédula porque eu entendo que as pessoas não estão mentindo pra mim porque eu não minto, eu não posso e não poderei. Então mesmo que seja algo tipo “mas e aquelas duas coisas que você disse” sabe, bem, existem um tempo entre as coisas então é claro que não se conversam porque eu não sou mais aquela pessoa.
Zane: E quando “você disse que tava te ignorando, mas eu estava mentindo”?
Miley: Bem, essa parte da música é sobre não responder mensagens ou retornar ligações então você pensa
Zane: É uma mentira branca
Miley: “Ah sabe, você deve ter caído pra fora do planeta”, eu não sou bajuladora, eu não poderia sair do planeta irmão, eu só estou sendo escorregadia
Zane: Isso não é não responder mensagens ou ligações, é autopreservação, mas é interessante que você diz que simplesmente não pode mentir, eu conheço outro artista que disse na minha cara que não conseguia mentira, que não está nele contar uma mentira, mas o que acontece se você conta?
Miley: Isso sai, como para todas as pessoas. Isso acontece. Sempre acontece com todos.
Zane: Mas isso te deixa louca? Te queima por dentro? Até que você não pode mais
Miley: Simplesmente acaba saindo de um jeito bizarro. Sempre acaba vindo direto na minha bunda e vai continuar assim. Eu acho que é carma, é o que poderia ser. Mas é tipo, mentiras são muito altas, quer dizer, a verdade sempre aparece. Comigo sempre foi assim.
Zane: Sempre foi assim na sua casa enquanto crescia?
Miley: Eu não acho que meus pais mentem. Meu pai é quase tão sincero que sente culpa. Se meu pai não quiser falar com você, você vai saber. Você vai saber. Meu pai, na verdade, me disse para nunca rir de uma piada que não é engraçada porque essa pessoa vai torturar outra pessoa com isso e eles vão ter que fingir uma risada e ai terá uma piada ruim sem fim que faz as pessoas se sentirem desconfortáveis e você terá que fingir, você será a razão pela qual as pessoas estão rindo de mentira e isso é uma merda.
Zane: Como é crescer numa casa assim, quando se tem um pai assim que todos acham que o conhecem de alguma música, mas isso é…
Miley: Ele é a pessoa mais excêntrica que já conheci na vida.
Zane: O que é incrível?
Miley: Sim. De novo, eu acho que você disse, ele é um de um e ninguém, é isso, ele é único e isso sempre foi minha inspiração. Você me pergunta sobre como me sinto quando entro na casa de alguém, o jeito que me visto, tipo eu quero ser a única eu porque todo mundo é seu único eu e isso é o que eu não gosto do novo formato das mídias sociais sobre postar tudo, todos começam a virar a mesma pessoa, os mesmos traços… pra mim ser única é minha religião. Apenas ser única. E isso não é um superpoder que tenho, é uma outra teoria que tenho, tão única como sou, eu não sou especial porque todos são especiais, cada um do seu jeito. Apenas uma estrela brilha mais que a outra. Têm muitas qualidades sobre isso.
Zane: Isso torna Marc Jacobs errado.
Miley: Eu acho que vou sempre me sobressair.
Zane: Você é muito empática, você é. Você é com certeza, você quer adotar animais, quer seus amigos e família bem e só quer as coisas ao seu redor, mas igualmente você não quer que isso a defina, certo?
Miley: Sim e eu tenho a tortura do artista acontecendo também as vezes. Eu procuro conflitos porque é criativo e isso é outro ponto.
Zane: você cria drama para escrever sobre
Miley: Por acidente! Eu não quero, mas eu gosto de me sentir triste. E realmente gosto de me sentir assim as vezes. E eu também gosto de me sentir feliz. Eu gosto de sentir. E eu gosto porque é inspirador pra mim.
Zane: Meu Deus, como você funciona agora como alguém que se coloca numa situação para passar por um processo e aprender algo novo quando tem tanto para sentir agora?
Miley: Tem sido incrível. Eu fiquei 3 dias sem dormir porque a energia de tudo acontecendo era tão estimulante que como você pode dormir em tempos assim? E quando se tem muito a fazer, como uma ativista, foi muito difícil pra mim simplesmente deitar a cabeça no travesseiro e ir pra terra dos sonhos. Mas eu acho que sonhar é, sinceramente, é o apontador de lápis da criatividade.
Zane: Você lembra dos seus sonhos?
Miley: Sim, eu lembro de muitos sonhos.
Zane: Você escreve eles?
Miley: Se eu anoto eles ou se escrevo sobre eles em músicas? Sobre música eu lembro muito de younger now nos sonhos. Eu sonhei que escrevi para a minha irmã com Justin Timberlake e eu acordei e pensei que só ia escrever. Eu não dei créditos para ele porque foi o Justin Timberlake dos sonhos, não foi o verdadeiro. Mas eu tive um sonho que eu, ele e Noah escrevemos Thinking Way Too Much. E foi a única música que escrevi nos sonhos eu acho.
Zane: Como você se lembra a música depois de sonhar? Eu tenho sonhos bem reais mas…
Miley: Assim que eu acordei eu tinha ela presa na minha mente o dia todo.
Zane: você realmente tem um afeto profundo pelas pessoas que você disse que ama e é leal e mesmo assim você “reinicia” as coisas. Nós estávamos falando sobre o seu pai e também tive a sorte de conhecer sua mãe que é incrível e quando os vejo no mesmo lugar eu penso que uau, é o casal perfeito. E como é essa situação de você dizer adeus para você mesma toda noite e procurar um novo momento para se colocar, mas ai você vê essa união, essa família tão amada que você veio…
Miley: Isso é bem diferente também porque eu tive essa conversa com a minha mãe essa manhã. Quem você ama e o que você quer podem ser coisas diferentes. Então minha mãe ama meu pai mais que tudo, eles criaram essa família, eles olham o que criaram e encontraram um propósito de vida, encontraram o amor. Mas o que eles querem é completamente diferente. E dizer que amor e o acordo no rumo da vida é a mesma coisa, mas não é. Eu não acho. Meu pai mora no Tennessee, numa fazenda, bem excluído e o nome do seu melhor amigo é “o rosto” (The Face), é uma árvore que tem um rosto e ele fala com ela o dia todo. É verdade, é assim “você quer vir ver o rosto?” e eu fico “Pai, você está com o rosto por 35 anos, eu já vi” então esse é meu pai. Já a minha mãe está rodeada de serviço. Ela quer servir pessoas. Ela é uma mãe para nós 5, mas é uma mãe para todos que conhece, ela é essa pessoa.
Zane: Ela tem uma energia incrível.
Miley: Ela quer viver rápido e eles têm escolhas bem diferentes, então meus pais realmente me ensinaram que amor é aquele sentimento, amor é o brilho, amor é algo que você não vê, amor não quer dizer ter uma vida padrão onde você senta e toma café junto todas as manhãs, então isso me faz procurar por outras coisas.
Zane: Existem algumas músicas de amor neste álbum que eu sinto que você está chegando bem perto de realmente identificar o que é amor para você. Angels é um momento incrível no álbum pra mim e é triste porque eu não acho que você está lá já, que você não pode alcançar ainda, mas você está definitivamente chegando lá, identificando o que é isso porque para deixar algo ir e ser capaz de escrever sobre o que significa pra você e deixar ir, significa que você entende o que aquilo significava pra você em primeiro lugar.
Miley: Sim, sabe, no começo muitas das músicas que eu escrevi são sem remorso e sem vergonha, mas não essa. Então da primeira vez que você escuta você fica “cara, ela realmente está colocando pra fora – você vai desejar que nós nunca tivemos nos conhecido no dia que eu for embora”, você vai pensar que eu sou sangue frio, mas então não é sua culpa. Essa música está dizendo que existe um remorso nisso. Todas as coisas deveriam estar adicionadas ao papel “você é o cara pra mim, mas eu sei que você é errado pra mim”. E talvez seja por ser parte de alguém que leva o caos ou algum conflito com criatividade, mas eu realmente respeito atores que podem entrar e sair de personagens. Na minha vida amorosa eu deveria ser mais como Denzel Washington ou alguém assim, eu deveria ser um ótimo ator para fazer todos os papéis e então ir pra casa e deixar isso.
Zane: Mas isso não é uma vida dupla?
Miley: Eu acho que é exatamente isso. Eu tenho dificuldade em desconectar daquele personagem sabe porque não é um personagem, não foi escrito pra mim. Alguém me disse isso uma vez num relacionamento “é como um filme”, mas não é. Não está escrito e o final não está só mostrando algumas cenas… eu não sou essa pessoa. Eu nem gosto tanto de assistir filmes porque eu sou muito embasada na verdade. Então quando eu sei que algo é uma história eu tenho dificuldade…
Zane: você é mais do tipo sonhadora.
Miley: Eu amo um documentário. Essa é a verdade. Isso eu amo. Eu amo vários artistas que são inspirados em filmes na verdade. Eu trabalhei com Max Martin, em algum momento, e ele disse que se sente inspirado a escrever músicas enquanto assiste filmes porque é tipo ‘eu posso escrever uma música para essa pessoa, eu não preciso falar da minha vida, eu posso escrever da perspectiva dele’. Não é a mesma coisa aqui. Eu preciso ser inspirada, ver de dentro, é só o que sou.
Zane: Mesmo uma música como Prisoner você suporta passando, cara, quer dizer, tem músicas tão incríveis e as minhas favoritas são High e Angels, mas a maior música do álbum é Prisoner. Quer dizer, ela é tão fora da curva.
Miley: O que eu amo sobre Prisoner, quer dizer eu acho que também saiu num ótimo momento para todos.
Zane: Sim, a sinergia entre o que vocês falam ali na superfície e o que estamos passando aqui.
Miley: Sim, nós também sentimos. Nós estamos presos nas nossas emoções agora, quer dizer, não tem escapatória e é tipo “eu estou presa e não posso te tirar da mente” qualquer coisa que você tenta suprimir ou guardar vai acabar saindo em algum momento. É sua decisão guardar ou soltar. De um jeito, nós temos muito em comum, olhe para nós.
Zane: Como o que?
Miley: Eu diria nossa paixão pela moda, tipo meu número 1. Eu e a Dua, ela provavelmente é a única pessoa que pode competir com a minha coleção de chapéus peludos. Nós temos uma paixão por chapéus assim.
Zane: Isso é fabuloso.
Miley: Sim! É fabuloso. De novo, eu acho que moda é algo tão, é você de dentro pra fora e eu acho que ela faz isso e eu amo isso porque eu amo quando você vai entra num espaço e reconhece as coisas. Pra mim isso é uma estrela. Se eu visse num manequim eu saberia que isso é da Dua Lipa então eu amo isso nela. Eu também amo que ela é muito direta. Nós editamos o clipe por mensagem de texto. Eu e ela apenas como artistas e eu não gosto de deixar tocar os telefones quando estou fazendo música, eu gosto de fazer com quem eu estou fazendo. Eu não quero fazer com um produtor, eu quero fazer com um artista e ela deixar eu ter essa linha direta e me comunicar e também a habilidade de apenas confiar uma na outra, acho que nosso ego está em dia, ela é muito disposta e eu também e então não tem competição porque do mesmo jeito que somos muito parecidas, somos muito diferentes.
Zane: Você deixa ela parar a música?
Miley: Não estamos competindo. Eu não sou assim sabe. É tipo o que falamos quando eu entro eu vou dominar o espaço ou eu vou ficar num canto e me camuflar e você nem saberá que estou ali sabe. Você pode saber o que estou usando ou que não estou usando, mas fora isso eu não preciso ser sempre a pessoa mais chamativa do ambiente. Eu também gosto de ficar quieta e observar. Então eu realmente que nós não competimos e isso muda tudo. Temos uma parceria verdadeira e eu também gosto que essa não foi a primeira música que fizemos juntas, nós tentamos outras e ela quis continuar até acertarmos, até sentirmos que estava certo naquela que honra nossa individualidade.
Zane: Isso é muito bom. A maioria das pessoas ligam, gravam, desligam e esperam sair.
Miley: Exatamente. E o quão rápido podemos fazer um vídeo, não tinha nenhuma máquina lá e você sabe gravamos outras coisas juntas e esperamos até que sentíssemos que essa é a música da Miley e Dua e tudo era sobre isso, reflete a gente. Ainda tem algo pra mim tipo como eu falo sobre moda ser algo que vem de dentro pra fora, as cores que eu vejo quando eu ouço música eu vejo cores.
Zane: Não me peça pra falar o que é isso porque eu nunca pronuncio isso certo, mas se escreve “synthesis”.
Miley: sim. Por isso que meu estúdio tem essas cores no teto. É o que eu vejo o tempo todo. Na verdade estão um pouco escondidos.
Zane: É isso que seu pai vê, você acha?
Miley: Eu espero que, isso são vaginas, eu não tenho certeza se é isso que ele vê. Sim, elas deveriam se parecer como portais do útero. É de onde eu vim, de onde eu acho que vim.
Zane: Isso é novidade?
Miley: Isso é de onde eu vim, mas vamos lá. Essa é a vagina cósmica, antes de você chegar na vagina humana. O verde ali é o que eu vi fazendo Prisoner, a música era muito verde e roxa e tinha muitas cores, tipo bem forte. Algumas músicas que escrevo são um azul bem claro…
Zane: você fecha seus olhos e isso vem pra você?
Miley: Sim. Então quando eu fecho meus olhos e escuto tem muitas cores e eu quase consigo ver agora, mas vai quase de um roxo profundo para verde profundo bem rápido. Isso realmente me representa então eu não sabia de onde eles estavam vindo, mas eu só senti, mas quando penso nela esses são os tipos de cores que penso. Eu penso em neons quando penso nela, talvez seja parte da radiação ou o poder, eu não sei. Normalmente eu sinto a vibe dos níveis de carisma das pessoas e alguns são muito fortes e eu vejo que quando Dua está por perto que seu carisma não tem nenhum senso de desespero sobre tipo ‘eu preciso ser a melhor porque se não’ não, ela só é calma para seu sucesso o que eu realmente gosto porque quando você pode falar que alguém é muito…
Zane: Tentando demais.
Miley: Tentando sobreviver, isso eu não gosto. Algumas das maiores estrelas têm isso nos olhos e não é um ego, na verdade é insegurança e é medo.
Zane: É tipo quando você está um ponto abaixo faltando 30 segundos pra acabar e você está com a bola.
Miley: Eu não gosto dessa energia. Pra mim isso não funciona. Como você explica porque isso não é confidencial e não é de segurança, é algo mais profundo que isso. Alguém me disse uma vez também “você é um espírito livre, você não pode ser contida”, e eu pensei que aquilo não era verdade. Eu gosto de ser ancorada e pesada. Eu não sou um espírito livre. Minha ideia de estrutura é provavelmente um pouco perdedora, mas pra mim eu sinto que tenho estrutura na minha vida e eu não diria que sou um espírito livre na minha vida. Eu gostaria de trabalhar nisso talvez, na minha habilidade de seguir com o fluxo.
Miley: Eu gostaria de trabalhar nisso, até talvez na minha capacidade de me deixar levar.
Zane: 2017, 2018 foi um passo estrutural, ter a casa ideal, local ideal, casamento, escrevendo a música, essa sendo a rotina. Tudo isso queima até as cinzas e acaba. Eu não acho que a pessoa com a qual estou sentado aqui está reagindo a isso, eu sinto que você ainda está pegando as boas partes disso.
Miley: Eu também gosto de regras. Quando estava lendo aquele livro sobre Joan Jett, ela disse que era uma seguidora das regras e achei muito engraçado porque eu meio que pensei que eu fosse o contrário mas eu realmente gosto de regras, se me disserem para eu não estacionar no lugar, não vou estacionar, se me disserem para ir no limite da velocidade, eu sempre vou no limite.
Zane: Você não dirige rápido?
Miley: Eu dirijo no limite permitido. Sou meio chata, eu dirijo no limite. Acho que pelo fato de já ter feito muita besteira, não tenho mais a vontade de estar em apuros. Eu odeio o sentimento que você tem quando sabe que fez coisa errada. Estive em apuros muitas vezes quando eu era criança e também ano passado, ontem, etc. Não quero ser presa, não quero uma multa, é irritante e acho que é um sinal de respeito. Eu gosto de respeito, e por isso eu gosto das regras, daquelas que vão prolongar minha vida, me beneficiar, proteger outras pessoas e acho que é um sinal de gentileza e respeito e isso é sobre ser uma boa pessoa.
Zane: Quando você tinha 27 você precisou ficar sóbria porque sentiu que estava em um caminho muito auto destrutivo que ocorre no espírito artístico em que a energia é muito alta para manter então você acaba perdendo sua balança com trágicas consequências. Você quer seguir no padrão que é recomendado para nós porque eles nos tornam seguros? Qual é sua idéia de mortalidade para alguém que vive tanto no momento igual você?
Miley: O medo da morte é puro instinto, é programado , somos todos sobreviventes, na verdade há um conceito que diz que todo mundo está nessa por eles mesmo, mas há alguns que fazem o melhor trabalho de esconder isso.
Zane: Você é uma sobrevivente? Poderia morar em uma ilha e matar alguém?
Miley: Se eu tivesse. Tem umas pessoas que diriam que não conseguiriam, mas fariam. É aquele conceito, “se eu tivesse, eu faria qualquer coisa”.
Zane: Você apareceu com Billy Idol, como aconteceu essa conexão?
Miley: Acho que a primeira vez que eu fiz qualquer coisa para Billy Idol foi tipo em 2013, logo depois que eu platinei e raspei meu cabelo, ficou meio espetado, parecia com Billy Idol, vibes meio andrógena e usei ele como inspiração para a “transformação” que eu tive, foi uma grande parte de mim porque o jeito que ele se casou com rebelião, e sua música com melodias incríveis me mostraram que eu poderia ter equilíbrio, que eu poderia fazer música que eu e outras pessoas amamos. As vezes eu perdia isso e achava de novo, era tipo ‘quero fazer música para mim’, mas parte da música é compartilhar sabe? Não é guardar. ‘Eyes Without a Face’ (música) me perseguiu por 1 ano, qualquer lugar que eu fosse estaria tocando, era doido. E aí fui no estúdio com (Andrew) Watt e disse que tinha estado em diferentes relacionamentos e falei que os videoclipes do Billy Idol são como pornô, tipo eu acho que os vídeos antigos do Billy Idol são tão sexy, e fiquei tipo essa é minha preferência pornô, os videoclipes de Billy Idol. Pensei ‘nossa temos que escrever uma música sobre isso’ e ele ficou tipo ‘vamos escrever uma música com Billy Idol’.
Zane: Você comentou com ele sobre os videoclipes e o conceito?
Miley: Na verdade sim, em uma conversa educada de jantar.
Zane: O que é Golden G String?
Miley: Escrevemos essa música entre 2017 e 2018. Essa, de novo, é reflexiva ao Donald Trump como presidente. E também é sobre ultrapassar a linha, eu sinto que tudo que eu fiz é motivo de opiniões e ofensivo, mas nosso presidente pega as mulheres pela buceta e estão bravos comigo. Eu sou uma estrela pop, eu tenho que fazer as coisas que as vezes te deixam desconfortável ou ache ofensivo, é meio que meu trabalho, é entretenimento. Eu não quero isso em um líder. Eu me considero uma líder, mas você não quer uma figura do entretenimento para governar o país que vivemos. Eu não tenho desejo em ser presidente, eu só tenho desejo em criar e ser uma artista, não tem como ser tudo.
Zane: Eu não sei como vai ser ano que vem, e estou muito feliz que você está lançando o álbum agora, conheço muitos artistas que não fariam isso.
Miley: Eu entendo eles, mas eu vivo para desafios e esse é um tempo criativamente desafiador, e com as performances que eu pude fazer com a minha música, espero que sejam eternas, que não sejam ofuscadas pelo covid.
Zane: Esse é um álbum que eu sinto que a performer em você ficou livre. Houveram momentos que eu escutei sua música no passado e tenho tentado comparar e fazer um contraste quando te vejo. Quando é você no microfone e te vejo cantando, chega em outro nível. E aí eu escuto essas músicas pop perfeitamente construídas e parece que você deixou elas pra trás.
Miley: Realmente veio com a idade, e é isso que falamos sobre o tempo. Falamos sobre timing, eu tinha que crescer um pouco, eu cresci e ainda estou no processo disso. Essa era quem eu era, quem eu fui e as pessoas me amaram por fazer música pop sabe, Party In The USA e We Can’t Stop, essas foram partes importantes da minha carreira que me deram segurança, e isso é uma coisa que todos queremos, amor e segurança.
Zane: Você sabia durante esse período que essas músicas tinham esse propósito em uma jornada de segurança e não necessariamente interna?
Miley: Eu sabia que não estava escutando músicas assim no meu período. Eu sabia que em casa eu não tinha escutado We Can’t Stop uma vez, mas eu amo demais. Me deu uma plataforma e eu amo o que dá para as pessoas, o que elas sentem quando escutam ela, eu amo o que significou pra mim na época. E na época, interpretando uma personagem por tanto tempo, e pessoas me amando por ser ela, eu tenho dificuldade em não associar que as músicas que não me identifico tanto mais eram apenas uma personagem que as pessoas amam mais do que amam meu eu verdadeiro. Então tem a base do medo de que as pessoas não vão me amar da mesma forma que amam minha personagem porque aquele nível de sucesso é tão rápido e pode refletir tudo que eu já faço, quando algo é tão grande e se destaca tanto, como Hannah Montana, Party In The USA, We Can’t Stop, Wrecking Ball, toda vez que faço um videoclipe, alguém se pergunta ‘será que ela vai fazer outro Wrecking Ball? Será que ela vai fazer algo assim de novo?’ E eu não sei se vou fazer algo assim de novo.
Zane: Você está dando sua narrativa. E quando falamos sobre Younger Now 3 anos atrás, aquele momento em que você vai no seu quintal canta com qualquer pessoa ou por conta própria, é a coisa mais pura, você tem esse fogo quando canta e é inacreditável.
Miley: Acho que é por isso que eu fico um pouco triste quando lanço um álbum. É literalmente nascimento e morte ao mesmo tempo. Quando você cria algo e entrega, não é mais meu, é de todo mundo, e todas as idéias não estão mais em um lugar seguro e sim em todo lugar, não é mais meu precioso segredo, o que é as vezes doloroso por que meu processo favorito é cantar e fazer música. Eu não sei direito como eu canto, nunca foquei muito em treino ou entendendo música, minha avó toca piano pelo ouvido, meu pai toca violão só pelo que se ensinou, é genético. E minha voz vem de um lugar que eu eu não sei como sai, e não penso nisso. Por isso eu amo demais a Dolly Parton, porque ela tem tudo, um ícone. Ela nunca mentiu, suas músicas são verdadeiras, mesmo se ela não se identifica tanto com as mais antigas, acontece quando se tem uma carreira tão grande como a dela, e achou essa balança, é uma super heroína. Por isso eu também amo drag queens, Debbie Harry quando criou Blondie, foi como criar uma personagem drag. Eu escrevo músicas de vários jeitos diferentes mas quando eu escrevo, não só vejo cor como também vejo qual batom estarei usando, ver em qual boca vão sair essas palavras. Ontem eu estava em um suéter gravando Stevie Nicks mas na minha mente estamos como a realeza de bruxas, vibes Stevie, cabelo longo, lua cheia, cachorros selvagens em todo lugar e é aí que eu estou mentalmente. Por isso quando eu escrevo músicas, acho bom escrever em lugares diferentes, até mencionei que não escrevo muito as músicas no estúdio, escrevo no carro, porque as letras simplesmente chegam em você, e quando você escreve ela pode chegar em qualquer lugar na sua imaginação.
Zane: Quando nos falamos 3 anos atrás, pensei que fossemos chegar em determinado lugar, e hoje você já está em outro nível. Esse álbum tem resumido você em um ponto da sua vida que é autoconsciência, aceitação e liberdade.
Miley: Aceitação tem me seguido recentemente, aceitação e atenção. E uma coisa que tem ficado comigo nas últimas 4 semanas é que a melhor forma de ficar aberto é nunca se fechar. Tive que dizer isso pra mim repetidamente ontem a noite quando estava editando Midnight Sky. Não sei o que era, estava ficando bloqueada criativamente e acabei chorando quando a música começou a tocar. Nem sei porque, talvez pelo fato de que Stevie Nicks estava no álbum foi muito emocionante, mas também percebi que a pessoa que escreveu (Midnight Sky) não é a pessoa que está editando a música agora e me deixou triste. Estava escutando e muita coisa já mudou. Quando as coisas estão diferentes, sou muito afetada por isso, seja por perder alguém, relacionamentos mudando, mudanças no país, no poder. E ontem quando a música começou a tocar, lembrei da frase ‘lembramos melhor do passado melhor do que foi, presente pior do que é e futuro mais resolvido do que jamais será’. E quando eu olho para o passado eu fico ‘quando eu escrevi aquela música, eram tempos mais simples’ mas não era bem assim. Quando escrevi MS eu só queria ter controle da minha narrativa, odiava quando os veículos criam minha biografia por mim, tipo NÃO.
Zane: Isso é o que cria ansiedade entretanto. Uma coisa que eu aprendi crescendo, com meus filhos e tudo é deixar pra lá.
Miley: Gostei disso. Por isso eu escrevi minhas músicas. Tipo ‘eu acho que você vai gostar desse álbum mas se não, vai se fuder’ por que é tipo, eu amo pra caralho e acho que há uma balança. E é algo que acho que eu, Andrew Watt, Andrew Wyatt e Mark Ronson achamos, eu amo Dolly Parton, cresci escutando Johnny Cash, Joan Jett, tenho isso em mim, mas também cresci escutando Gwen Stefani, que realmente fez o famoso ‘melhor dos dois mundos’ e não se sentir envergonhada por nada. E como achar essa fusão, fazer uma mistura de tudo que eu amei e não me sentir envergonhada pelos meus gostos musicais que me inspiraram e transformar em algo meu. Acho que o que iniciou isso tudo foi que originalmente a vergonha saiu e agora estou mais consciente de perceber que não me sinto de certa forma, desapegada de um sentimento. Eu tenho um medo de escrever músicas novas porque o que eu passei é tão amplo.
Zane:Não mais.
Miley: Não mais, estou muito animada desse álbum sair é algo que não poderia estar mais orgulhosa, e tenho tanta gratidão pelos colaboradores que me ajudaram a criar.
Zane: O negócio é: você vai fazer outro, e depois outro.
Miley: Já estou fazendo! Esse álbum tem 12 músicas, de certa forma 15 agora. Adicionei 3 músicas desde que saiu. 12 + 2 covers e remix de Midnight Sky. Então, quando finalizei esse álbum 2 semanas atrás, era um disco de 12 músicas e agora são 15. Isso é ótimo sobre o digital. Vou só continuar adicionando.
Zane: Amei isso.
Leia outras entrevistas recentes de Miley traduzidas clicando aqui.
Deprecated: WP_Query foi chamado com um argumento que está obsoleto desde a versão 3.1.0!
caller_get_posts
está depreciado. Utilize ignore_sticky_posts
no lugar. in /home/mileybr/public_html/wp-includes/functions.php on line 5610