28.02.2019

Antes de começarmos, Miley gostaria de ler algo que fala dela. Ela não tem certeza de como chamar isso, na verdade. Em um ponto ela diz “op-ed”, mas não é um “op-ed”. Declaração? É uma forma de declaração. Ela está tentando se explicar. Em novembro, sua casa em Malibu, que começou com seu parceiro, Liam Hemsworth, com dois porcos, dois cavalos, quatro gatos e sete cachorros, pegou fogo. Mais ou menos um mês e meio depois, perto do Natal, ela e Hemsworth se casaram. Ela ainda está tentando entender tudo – como uma coisa levou à outra.


Cyrus recentemente fez 26 anos. O episódio de lançamento de Hannah Montana, a série da Disney que a deixou famosa, foi ao ar quando ela tinha 13, o que significa que ela é, desde então, uma figura pública – um ídolo adolescente, então uma estrela do pop, e assim em diante, para o que quer que seja hoje – por mais de metade de sua vida. Ela teve três álbuns número 1. Mais de 82 milhões de seguidores no Instagram – um número que cresce muito todos os dias. No dia em que anunciou seu casamento: quase 400 mil novos seguidores. Isso está longe da primeira vez em que precisou fazer algo assim – trabalhar quem ela de fato é em frente à sua audiência. Na verdade, isso é tudo que ela realmente sabe. “Eu lembro de tirar minha carteira de motorista e ser um grande acontecimento por estar dirigindo”, ela diz. “Quase como se os marcos da minha vida foram os marcos da América. Parecia como se a América fosse um estranho parente, sabe?” Ou talvez, agora que ela pensa sobre isso, seja um outro ponto. “Eu era muito influente na vida das crianças que eu era como uma babá da América”, ela diz rindo.“Tipo, apenas sente suas crianças em frente a mim e vou ensiná-los como ser uma boa pessoa, o que me coloca como uma parente da América.”

 

No tempo entre Hannah Montana e hoje, Cyrus experimentou praticamente todo tipo de atenção que poderia ter. “O peso de milhares de olhos em você de quem nunca terá que lidar com criticismo, ou os vidros incríveis que lidamos todos os dias de nossas vidas,” como sua amiga e antiga criança famosa, Ariana Grande, diz. Cyrus também virou adepta ao sumir quando necessário. Ano passado seu plano foi simples: se esconder em Malibu, trabalhar seu novo álbum, viver a vida com seus cachorros, porcos e seu “parceiro de sobrevivência”, que era como ela o chamava antes de poder chamar, como hoje, de marido. Mas então veio o fogo, que a baniu de Mailibu, e o casamento, o que a trouxe novamente aos olhos do público e, de repente, era 2019 e Cyrus se encontrou com uma história que ela ainda não sabia como contar. “Onde estou em minha vida agora é muito compleco, até pra mim mesma,” Cyrus diz. “Então eu escrevi algo que, na minha cabeça, poderia vir antes de nossa conversa.”


Uma noite, não há muito tempo atrás, ela estava na cama – “Eram 3:30 da manhã e não conseguia dormir,” ela diz. E, de repente, todas as palavras começaram a sair. Ela escreveu em seu celular – de onde estou sentado posso ver o texto descendo longe do limite da tela. Ela pergunta se eu não me importaria dela ler, em voz alta, agora. A sua mente realmente é rápida – muito rápida. “Quanto mais selvagem eu for, mais rápido eu vou,” Cyrus diz. Mas ela vai tentar diminuir. Ela vai tentar passar por cima disso.

 

“As vezes eu sinto que você não sabe como se sente até se deixar ir,” ela diz. Então, aqui vamos nós.

 

Eu tento ser eu mesma em qualquer estado de ser. Quando eu posso, vou continuar, trabalhar duro, sentar, observar e conhecer exatamente “quem é ela” no privado. Meu processo criativo vem da inspiração por experiências da vida, sem pressão do padrão da indústria. Nunca vou colocar meu próprio plano antes da natureza ou comprometer o crescimento pessoal para vantagem profissional. Com isso dito, se tem um tempo na minha vida, como agora, que estou dividindo publicamente minhas histórias, minha música, minha arte, “quem eu sou” na frente de todos e vamos nessa juntos. Quando as pessoas ouvem minha música, eles ouvem um fragmento de tempo, o que sinto ou senti naquele momento. Quando isso chega aos seus ouvidos, eu posso ter dado outra impressão, mas eu sou verdadeiramente eu o tempo todo. Isso podem ser cinco mil cores e tons diferentes. Sou um recipiente criativo que luta por mudança e evolução. Eu amo como me sinto, e sinto extremos. Claro que tenho um pouco de “nunca satisfeita” do que os artistas vivem dentro de mim que se vira tédio rapidamente, então movo minha vida ainda mais rápida. Mas eu tenho uma casa e centro que tenho para onde voltar, calma e paz. Eu não posso estar nisso por muito tempo, mas é um lugar para respirar. É isso que tenho como base desde o começo.

 

Por ora, a casa de Miley é em Nashville, onde ela tem uma casa não muito longe de onde ela cresceu. Mas essa semana ela veio para Miami por sentir saudades do sol, que ela não viu em algumas semanas, e porque ela tinha a sessão de fotos, e porque ela sempre quis visitar a antiga mansão de Gianni Versace, que ainda está aqui, na Ocean Drive, e agora é um hotel em que tem um italiano em sua suíte principal, chamado Armando.

 

Hoje Armando nos colocou numa sala de jantar privada para conversarmos. Quando nossos observadores se vão, Cyrus pega uma vape de sua bolsa e inspira algumas vezes. Ela está vestida para a ocasião – roupas e acessórios Versace. Quando ela para em frente à piscina, ela praticamente desaparece com as combinações de cores Versace.

 

Ela fala como alguém que está tão interessada em descobrir quem a Miley Cyrus é, como todos nós. “Eu me surpreendo com as minhas próprias escolhas,” ela diz. “As vezes até penso: Por que eu fiz isso? Ou, o que me trouxe aqui? O que? Por que?” Ela é muito sincera e igualmente não linear. O produtor Mark Ronson me disse que uma vez ela tentou explicar o sistema que ela usa para saber suas roupas: “Eles estão por, tipo, humor, cor e designer,” ele diz. “É como se alguém te dissesse que tem uma coleção de cds, mas estão organizados pela inicial do primeiro nome do engenheiro. Eu estava ficando com dor de cabeça enquanto ela explicava.” No estúdio, ele diz, ela é do mesmo jeito, a rapidez de sua mente: “Se meu cérebro fosse rápido desse jeito ou conseguisse segurar tudo isso de informação e processar ao mesmo tempo, eu estaria sempre a beira de um ataque de pânico, eu acho, porque é muito.” Wayne Cone, o vocalista do Flaming Lips e um parceiro frequente de Cyrus, nos conta uma história de uma carona. “Ela estaria chapada e teria respostas para todos os enigmas que falassem,” ele diz. “Tinha um prédio que era uma prisão em Nashville que ela e Liam iam comprar e transformam em um abrigo para desabrigados e um ponto de encontro. E – isso foi tudo em uma conversa – ela ia comprar uma linha aérea em que as pessoas poderiam levar seus animais de estimação, para voar com eles, e sua linha seria apenas para Pets… Ela apenas fica muito animada. E tudo é possível.”

 

Uma conversa com Cyrus é como tentar achar uma rádio entre estações, com diferentes tons de música aparecendo. “Eu ficaria muito feliz de simplesmente explicar onde estou, obviamente em meu relacionamento, como a música pode ser tão contraditória,” ela diz com pressa. “Mas, tipo: você sabe minha verdade. Eu também escrevi muito desse álbum antes da minha casa queimar e minha vida inteira mudar.”

Foi Hemsworth quem comprou a casa, anos atrás. Mas Cyrus, como aconteceu, esteve lá primeiro. “você não acreditaria,” ela diz. “O primeiro álbum que fiz como eu mesma – não como Hannah Montana, o primeiro cd como Miley Cyrus – eu fiz praticamente todo o cd naquela casa.” Um produtor chamado Matthew Wilder morava lá e Cyrus trabalhou com ele num estúdio na propriedade. Anos depois, depois dela e Hemsworth começarem a namorar, no set do filme “A Última Música” de Nicholas Sparks em 2010, e se separarem – temporariamente, como aconteceria – Hemsworth comprou a casa de Wilder sem saber a história. “E então ele apareceu, pronto para mudar. E os antigos donos estão tirando tudo da garagem e placas com as minhas fotos. Liam apareceu e estava tipo ‘Como assim?’

 

Em tempo, ele e Cyrus voltaram e ela se mudou com ele. Eles tinham arte, assim como a maior parte das músicas de Cyrus, do Bangerz de 2013, guardado pela casa: computadores, hard drives, papéis com letras de músicas. Quando o incêndio de Woolsey chegou, Cyrus estava na África do Sul, gravando um episódio de Black Mirror. Hemsworth retirou os animais. E então, como mais de mil casas na região, tudo se foi.

 

Na noite em que isso aconteceu, ela diz, “Eu peguei o jornal que estava próximo de mim e só comecei a escrever o que estava sentindo. Alguns dos sentimentos não se conectaram com outros. Alguns eram bem bravos; alguns como alívio, de certa forma, o que parece realmente estranho. Parece que tinham pesos nos meus calcanhares e eu estava no oceano, e alguém simplesmente cortou as linhas e eu poderia boiar e ficar livre porque eu não tinha nada preso em mim. Raiva, alívio, tristeza. Um sentimento de: Nunca vou superar isso, isso nunca vai acabar. Mas nos curamos e nosso cérebro se acostuma a imaginar um cenário ainda pior acontecendo repetidamente.”

 

Eles querem reconstruir, mas no momento ela está se permitindo experimentar uma vida sem um centro. “Eu nunca ficarei feliz que todas aquelas memórias e fotos e coisas que eu amava foram embora,” Cyrus diz. “Mas para ter uma experiência assim – Eu me sinto mais conectada como ser-humano de novo.”

 

Casar foi um resultado do que ela e Hemsworth passaram, ela diz. “Quando você passa pelo que passamos juntos com alguém, é como cola. Vocês são as únicas duas pessoas no mundo que se entendem.”

 

Perder minha casa, perder aquela paz foi bem inquietante. Eu não voltei. Eu senti como se meus pés fossem tirados de mim. Eu estava trabalhando em Black Mirror na América do Sul. O dia em que ouvir que perdemos nossa casa, minha cena era em minha casa em Malibu. Minha personagem estava tendo um ataque de pânico, precisando dizer que a inspiração estava aqui. Anne Sewitzky, a diretora, e eu nos tornamos muito próximas, desde que passando por tudo isso tão longe de casa, ela era a única figura materna que eu tinha. Passando por isso e na realidade disso tudo, nós criamos algo que achei mágico. É difícil pra mim estar orgulhosa do meu trabalho, eu raramente saio satisfeita, mas estou orgulhosa do que fizemos. Isso realmente conta minha história de uma forma pesada e engraçada, como o programa faz, e como é a vida. Perder “tudo” naquele momento – materialmente, porque nenhuma vida das pessoas que conhecemos e amamos perdemos – Liam e eu realmente encontramos uma nova ligação. Passar por um desastre natural, o luto que você passa é realmente diferente de outras perdas. Nada mais, apenas diferente. Em nossa posição parece que tudo é substituível e que você pode começar de novo, mas você não pode comprar espírito. Nosso lugar não estava cheio de coisas caras, merdas sem sentido, mas arte – muitas do que fizemos nós mesmos e por outros, incluindo nossas cartas e desenhos pessoas de Heath Ledger, John Kricfalusi, Joan Jett, Murakami, David LaChapelle, Ryan McGinley, e muitos outros que respeitamos.

 

Você se sente diferente estando casada?
“0% diferente. Eu diria que perder nossa casa nos mudou muito mais que casar.”


Então por que fizeram isso?
“Nós usamos anéis para sempre , e eu definitivamente não precisava disso de jeito nenhum. Na verdade, é meio fora de mim mesma.”

De alguma forma, é uma coisa antiga de se fazer.


“O motivo pelo qual as pessoas se casam às vezes pode ser antiquado, mas acho que a razão pela qual nos casamos não é antiquada – na verdade, acho que é meio que Nova Era. Estamos nos redefinindo, e para ser franca, fica parecendo estranho para alguém que é uma pessoa LGBTQ+ como eu, estar em um relacionamento hetero. Uma grande parte do meu orgulho e minha identidade é ser uma pessoa LGBTQ+. O que eu prego é: as pessoas se apaixonam por pessoas, não por gênero, não por aparências, nem por qualquer outra coisa. O que eu estou amando existe em quase um nível espiritual. Não tem nada a ver com sexualidade ou gênero. O sexo é, na verdade, uma pequena parte, e o gênero é uma parte muito pequena e quase irrelevante dos relacionamentos. Parece que, às vezes, o que você estava procurando, na verdade, era uma espécie de estabilidade ou um ponto fixo.”

“Sim. Sem sentir como se você estivesse colocando um Band-Aid em uma situação ruim e dizendo: “Bem, você sabe, agora tudo ficará melhor.”Porque muitas pessoas usam o casamento, acho que talvez por uma cura. Mas, como minha mulher favorita no mundo, Hillary Clinton diz: somos mais fortes juntos e isso me deixa emocionada. O que ela quis dizer com isso, é que tipo: quem dá a mínima se ele é um cara, se eu sou uma garota, ou se ele era uma mulher, quem dá a mínima? Nós somos realmente mais fortes juntos. Um é o número mais solitário.

Sendo alguém que tem tanto orgulho da individualidade e na liberdade, e sendo um membro orgulhoso da comunidade LGBTQ+, fui inspirada por redefinir novamente como é um relacionamento nesta geração. Sexualidade e identidade de gênero são completamente separadas da parceria/relacionamento. Usei um vestido no dia do meu casamento porque me deu vontade, alisei o cabelo porque me deu vontade, mas isso não me faz ser uma “senhora hetero educada” instantaneamente.  (Ps: As mulheres heterossexuais também são duronas!)
A minha relação é muito especial para mim, é a minha casa. Sinto-me menos deslocada quando estamos na mesma sala, onde quer que seja, mas só porque algo muda na minha relação não significa que algo tenha de mudar drasticamente na minha individualidade. O que Liam e eu passamos juntos nos transformou. Não tenho certeza se, sem perder Malibu, estaríamos prontos para dar esse passo ou até mesmo nos casarmos, quem sabe?  
Mas o momento pareceu-me adequado e eu fui com o meu coração. Nada é prometido a ninguém no dia seguinte e nem no próximo, por isso tento estar “no agora” tanto quanto possível.
Se eu alguma vez me encontrar pensando muito à frente, reconheço essa ansiedade e me coloco de volta no meu corpo e fora da minha cabeça. Algo que me ajuda, quando a vida está se movendo tão rápido que é difícil acompanhar, é escrever. Não apenas canções, mas fluxos de consciência.
Eu me deixo balbuciar, e em toda essa tralha às vezes há um tesouro! Praticamente o que estou fazendo agora.  Todas as coisas que já aprendemos ou experimentamos estão guardadas no fundo da nossa mente.
É importante sonhar acordado, deixar os pensamentos e memórias viajarem para dentro e para fora, e aprender a reconhecê-los. Não apenas sua verdade, mas suas mentiras. Quando eu escrevo esses pensamentos, é bom ter um ponto de referência para ver porque eu agi em certas escolhas ou seguir certos caminhos. É tudo apenas uma maneira de lidar, gerenciar e processar experiências.  A forma como me sinto pode ser tão drástica de momento para momento, a perspectiva é tudo. Tempo e lugar. Aqui e agora. Num segundo tudo pode mudar.
Pode ser assustador quando não é você que está no assento do motorista – inevitavelmente, às vezes perdemos o controle. A chave para me manter saudável e feliz é ser o piloto e não um piloto de banco traseiro. Pensando por mim mesma. Às vezes isso é atribuído a uma atitude de “Eu não quero saber de nada”, mas essa não é a minha narrativa.  Eu me importo. Muitas vezes, na verdade. Às vezes demasiados. Sou livre e fluente com o meu discurso, então, ao ser honesta, às vezes me contradigo, mas, como eu disse naquele momento, essa é a minha verdade mais completa.
Vivo na aceitação dos outros e espero que todos sintam a liberdade em que eu vivo! Pessoas como eu têm dificuldade em compreender um meio-termo, eu prospero em extremos, mas estou aprendendo a viver nesse meio-termo, às vezes fico desconfortável e com comichão.
Quero viver uma longa vida cheia de amor, música e aventura. Acredito que o equilíbrio me levará lá. Equilíbrio e moderação. Que às vezes é como uma língua estrangeira para mim, mas estou praticando.
Nessa prática virão os erros, mas vai me moldar e mal posso esperar para ver em quem me transformarei.  Como disse Bowie, prometo que não será chato. Como poderia ser? A vida é como assistir a um show favorito. O que vem a seguir?  Não consigo dormir até descobrirmos…

Cyrus está trabalhando em seu próximo álbum — ela espera lançar sua próxima música neste verão. “Tem elementos psicodélicos, pop, mas tem mais vertentes do hip−hop”, ela diz. “Sabe, eu gosto muito de não ter um gênero definido”. Este novo álbum, ela diz, será “um tipo de mosaico de todas as coisas que já fiz antes”.

Essa lista de todas as coisas que Miley Cyrus já fez é bem longa, atualmente. A primeira trilha sonora de Hannah Montana saiu em 2006, quando ela era apenas uma criança que tinha sua mãe, Tish, como empresária, e trabalhando diariamente no set com seu pai, Billy Ray, que também atuava na série. “Não admira ter ficado louca por alguns anos”, ela diz agora, rindo. “Mas não, meus pais são muito legais. Os dois são muito maconheiros. Eu lembro de uma vez que os produtores de Hannah Montana começaram a gritar comigo porque pensaram que eu estava fumando um baseado no camarim. ‘Vá bater na porta do meu pai.’ Era meu pai”.

Cyrus cresceu no meio de cantores country como seu pai e sua madrinha, Dolly Parton, e você ainda pode notar isso em sua voz hoje em dia. “Seu tom é muito reconhecível”, diz Ariana Grande. “De olhos fechados, você reconhece que é a Miley”. Pharrell, que tem trabalhado com Cyrus desde 2013 diz: “Quando ela canta, você sente várias daquelas texturas clássicas e das maneiras clássicas de dominar uma música”.

Quase que há 10 anos atrás, Cyrus posou para esta mesma revista usando apenas um lençol. Relembrando, ela diz, “isso não foi um pensamento consciente do tipo ‘ok, eu ficarei certa de que agora é um ótimo momento para dar o passo para a vida de adulta e irritar as pessoas’. Apenas sentir que era algo certo”. Mas por um tempo, o que parecia certo continuou colocando−a em mais e mais problemas. Sua performance para o MTV VMA em 2013 é agora material de tradição para a cultura pop, até mesmo presidencialista. No dia seguinte, enquanto Cyrus estava hospedada no Trump Tower, em Nova York, ela acordou com uma ligação de Donald Trump, que queria parabenizá−la em sua extrema apresentação de twerk. “Eu amei”, ele disse.

“E agora ele é nosso presidente”, Cyrus diz, suspirando. “Sabe, eu disse que me mudaria se ele virasse presidente. Todos dissemos um monte de porcarias que não queríamos dizer.”

“Porque realmente pensamos: Talvez as pessoas ouvirão. Talvez as pessoas se deem conta do quão prejudicial isso será para o nosso país, se acontecer. Obviamente ninguém ouviu. Mas para eu sair do país, que porra isso mudaria? Como alguém que tem muito orgulho de ser uma ativista, sentirei orgulho de mim mesma apenas fugindo e deixando todo mundo aqui para viver sob um babaca racista, sexista e cheio de ódio? Você não pode deixar todo mundo se defender sozinho”.

Em 2013, ela também lançou Bangerz, um álbum influenciado pelo rap, no qual está o seu maior single até hoje, “Wrecking Ball”, o vídeo que foi visto quase que um bilhão de vezes no YouTube e também a estabilizou como uma grande estrela do pop. Cyrus fez o Bangerz em parceria com os produtores Mike Will Made It e Pharrell, quem ela continua trabalhando até hoje, mas desde então e até hoje, como ela fez alguns comentários negativos sobre o gênero, as pessoas a acusam de se apropriar do estilo do hip hop sem entendê−lo completamente, ou respeitar sua origem. Em 2015, depois de Cyrus e Nicki Minaj se estranharem no palco do VMA, Minaj disse ao The New York Times Magazine: “Se você quer aproveitar nossa cultura e estilo de vida, junte−se a nós, dance, divirta−se, twerk, rap com a gente, então você gostará de saber o que nos afeta, o que nos incomoda, o que nós achamos ser injusto para conosco. Você não deveria querer saber disso”.

Cyrus disse que, nos anos desde que fez Bangerz, ela tem tentado ser mais cuidado sobre sua origem em relação às demais pessoas. “Eu acho que somos tão influenciados por pessoas que estão a nossa volta”, ela diz. “E minha comunidade quando eu estava trabalhando em Bangerz, Future escreveu em ‘Love Money Party’. Essas são as pessoas que eu estava cercada no estúdio. Future é muito incrível e tem muita sabedoria também. Apenas ouvindo a ele e Mike Will, que chamaria seu primeiro álbum de Made It from the Basement, o jeito que eles cresceram foi obviamente muito diferente do jeito que eu cresci”.

“Ela é apenas de uma outra geração,” Pharrell diz. “Porém, ela também é parte dessa cultura que está no meio de tudo. Eles olham tudo. E eles não tem algumas das mesmas sensibilidades que nós temos. E é por isso que você tem algumas conversas com eles, para explicar parte da história, porque algumas dessas coisas são pesadas. Mas eu trabalhei com ela porque a achei talentosa, e havia algo muito diferente. E ainda há, quando ela canta, quando atinge uma nota, você a olha tipo: Wow.”

Cyrus diz saber que tem um caminho mais fácil nesta indústria do que artistas como Pharrell e Mike Will, os quais a ajudaram através deste. “Meu pai já estava na indústria. Eu cresci num ônibus de turnê,” ela diz. “Eles são 100% feitos sozinhos. Isso é muito inspirador para mim. E isso me fez querer ser ainda mais autossuficiente.”

Para Cyrus, trabalhar em ser autossificiente teve a forma de experimenter outras coisas, formas mais pessoas, sem exatamente se esquivar dos holofotes, mas redirecioná−los, entrar em contato com o mundo. Ronson relembra mandar uma mensagem para ela neste período: ela passaria três semanas entre mensagens e mandaria de volta apenas um emoji. Em 2015, fez Miley Cyrus & Her Dead Petz, um liberto e semi-psicadélico álbum que gravou com The Flaming Lips e lançou gratuitamente pelo SoundCloud.

Em 2017, ela lançou Younger Now, para o qual escreveu todas as letras e melodias, e também é tão próximo do tradicional Nashville quando ela diz ser. “Eu não fumei maconha e não estava festejando e fiquei sóbria por um ano. Eu sinto que isso foi algo mais desafiador do que tudo que já fiz, ter uma escritora pop feminina que diz, ‘Tudo bem, escreverei só todas as minhas músicas. Não quero compartilhar as letras com ninguém. Quero apenas escrever o que sinto.’”

No final do ano passado, Cyrus gravou “Nothing Breaks Like a Heart” com Ronson, que lançou a música em dezembro como primeiro single de seu novo álbum. A música colocou Cyrus de volta as rádios, no Howard Stern e no Saturday Night Live; e também a fez pensar bem sobre que papel tem uma estrela do pop, exatamente, em 2019. No vídeo do single, Cyrus dirige numa Mercedes através de vários enigmas, pessoas e políticos: ajoelhando−se a jogadores de futebol, strippers, uma bola de demolição pendurada no retrovisor.

“Eu amo quando a cultura pop e a política se misturam”, diz Cyrus. “Não acho que os dois são casados completamente felizes. Eles se desafiam. Mas eu acho que especialmente hoje em dia, a cultura pop e a política são as mesmas coisas. Especialmente com o presidente que nós temos agora. Colocamos uma celebridade como presidente. As pessoas ouvem mais o que celebridades tem a dizer do que ativistas na metade do tempo. Então, tendo essa plataforma, que merda você vai dizer?”

Até mesmo na privacidade do estúdio, Cyrus diz que é lembrada da maneira que gênero e política constantemente brincam entre si em todos os aspectos da música pop. “Todo produtor que estou trabalhando neste novo álbum é homem. Não existem muitas opções de produtoras femininas para mim. Mas é bom ser a mulher no estúdio que tem mais voz”.

Isso é solitário?

“Não, porque tenho energia masculina. Acho que me associo mais com a energia deles, porque eu talvez sinta esse mesmo poder.”

Por acidente, mesmo sabendo que isso não existe, resolvi fazer um experimento. Arte imitando a vida, e vice−versa. Isso é exatamente o que nosso vídeo “Nothing Breaks Like a Heart” fala. A quantidade de disruptura que é causada por ver uma mulher viver fora dos padrões sociais. Onde homens podem ser elogiados, mulheres são desaprovadas. Experimentei isso em primeira mão. O pânico que causou em mim por me apresentar em um terno masculino da Gucci, aberto, expondo meu peito, ao invés de sair do meu hotel, cumprimentando os fãs em uma saia com cabelo longo e realçado. As “estrelas de ouro” que recebi por ser “bonita” e seguir as regras são muito desencorajadoras e desinspiradoras, mas também me motivam. Me inspira a continuar desafiando limites; e a ser eu mesma, mesmo sabendo o que isso significa em alguns dias mais do que outros. Como eu me sinto poder drástico, mas a vida é divertida, arrepiante e empolgante assim. Esse ano, resolve viver despreocupada, mas não menos cuidadosa, se isso fizer algum sentido. Sou muito grata por meus fãs leais que tem sido tão apoiadores em qualquer espaço que ocupei. Tudo que eu faço tem uma mensagem, e eles ajudam a espalhar essas filosofias. Minhas declarações de moda recentemente foram descritas como mais “mansas” do que as do passado, mas na verdade acho que estou desafiando o sistema mais do que nunca. Escolher viver como uma ativista vegana sustentável significa usar mais vintage (menos desperdício; peças amorosas por mais tempo), brincar com os mais novos materiais ecológicos e tecnologia e fazer peças veganas personalizadas com alguns dos meus designers favoritos, como Louis Vuitton, Celine, Saint Laurent, Viktor & Rolf, Isabel Marant, Thierry Mugler, Gaultier, Vivienne Westwood and of course Stella McCartney—fomos ao Met Ball juntos para usar a plataforma para encorajar moda sem crueldade.

Disso isso antes, e nisso eu sempre estarei certa: se você acha que sou uma rebelde sem causa, não está prestando atenção direito.

Esse é meu texto.

Cyrus não acredita muito no conceito de arrependimento. Ela acha que é tudo inseparável, de um jeito que—como você se veste, as coisas que você tem, o que você fez, até mesmo os artigos de tabloides— tudo faz parte de um projeto unificado que está evoluindo em tempo real, as respostas mudando a cada minuto e ano. Se você fizer da maneira correta, tudo vai durar, até mesmo quando você morrer. Veja onde estamos sentadas agora, na mansão Versace, na sala de jantar de um homem morto. “Seu espírito está aqui,” Cyrus diz. “Mesmo que não esteja aqui, seu espírio continua.” Ela pede para andar um pouco, para tentar se comunicar com ele. Armando diz que sim. Ele nos acompanha pelo hotel. “Esse costumava ser o quarto de Lady Diana,” ele diz: araras no papel de parede, uma velha cama esplendida. Em seguida é a Suite Mosaic, nomeado para a Medusa cravada no chão. “Estou enlouquecendo,” Cyrus diz. Ela se agacha para tirar uma selfie com ela. Tardiamente, ela percebe a TV presa na parede, as garrafas de água Fiji na mesinha de cabeceira. “Espera, ainda tem gente aqui?” ela pergunta, apenas se dando conta de que esse é um hotel.

Em algumas horas, ela voltará para Nashville. A máquina por volta dela já está pronta para a próxima interação pública de Miley Cyrus. Em alguns momentos, ela sairá, e um fotógrafo a fotografará: sua roupa Versace ficará ao vento e no próximo dia essa foto aparecerá em vários sites e páginas de fofocas, especulando que Cyrus está grávida, pois, em sua vida, uma mera brisa do oceano pode virar notícia.

Na semana que vem, eu assistirei a distancia os rumores se darem como certos até que Cyrus responda um tweet negando tudo. Para o que importa, isso é o que Cyrus disse para mim sobre outras crianças quando o assunto surgiu: “Alguém realmente anima as crianças. Aí você senta e fica tipo, ‘Sim, é fofo,’ mas, você sabe, é um bebê. É o que é.’”

Mas aí novamente ela admite a coisa mais constante sobre Cyrus é a frequência com a qual muda de ideia. “Existe um livro que eu estava obcecada, chamado The Untethered Soul,” Cyrus diz. “E fala sobre ir a um lugar sozinha e prestar atenção no qual rápido sua mente funciona. Sabe, como quando você fica tipo: ‘Por que eu estou pensando nisso?’ Eu tenho essa tendência de apenas deixar minha mente me guiar, deixar meus pensamentos selvagens me guiarem. Mas quero ser a piloto das minhas decisões.”

Ela segura seu celular, sua declaração ainda está lá em seu aplicativo de notas, um memorando para o futuro dela, para ninguém mais. “Então, Eu acho que você escrever seus pensamentos e depois referencia-los, você pode ir: ‘Oh, bem: Está aí o motivo.’”

Fonte | Tradução: Débora Brotto, João Felipe e Lucas Gomes.


Publicada por: Lucas Gomes

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