Matéria: Marie Claire Magazine – USA
Créditos pelos Scans: @fuckbangerz23
Tradução: Débora Brotto e Lucas Nascimento – Equipe Miley Cyrus Brasil
Uma bandeira feita à mão com a frase “apenas boas vibrações” fornece uma alegre saudação ao entrar no estúdio de gravação de Miley Cyrus, um espaço acolhedor ao lado de sua casa em San Fernando Valley em L.A, decorado com um sofá convidativo, uma mesa desordenada, e com luminárias penduradas que parecem nuvens. A mesa de café possui livros de fotos, um cinzeiro, almofadas, uma garrafa de Ciroc, adesivos, Polaroids, e uma escultura de um cérebro. Seu microfone é coberto em fita colorida, como um arco-íris. E no canto, um boneco alienígena de plástico.
Cyrus, 22, está orgulhosa de seu estúdio despretensioso e de baixa tecnologia. Uma caipira de coração, ela não é uma grande crente do consumo compulsivo ou excesso desnecessário – pelo menos não fora do emocional ou de seu lado teatral. “Esses estúdios grandes pra cacete que outras pessoas usam?” ela diz sobre alguns de seus colegas. “Você não precisa de tudo isso. Tudo que se precisa é de um microfone e um computador.”
Ela pensa da mesma forma sobre a casa que ela está remodelando, onde ela terá uma área plantada para os cavalos que ela pretende resgatar e adicionar a sua misturada família que inclui quatro cães, um par de gatos, e seu porco. Porco. “Meus empreiteiros tentam muito me vender toda essa merda, e eu estou tipo, eu não estou construindo uma porra de casa que terá um chuveiro ao ar livre“, diz Cyrus, enquanto vai de seu estúdio para sua casa principal. “Eu não preciso de pisos elegantes que meus cães vão arruinar.”
Cyrus, que diz ter gosto por “janky“, é incisivamente sobre Benjamins. “As pessoas desse mercado pensam ‘eu só preciso continuar ganhando dinheiro’ e eu fico, pra que você está querendo mais dinheiro? Você provavelmente nem vai conseguir gastar tudo durante sua vida. As pessoas ficam mais famosas, para que fiquem ainda mais famosas, para que vendam mais merda, para então fazer mais dinheiro. É um ciclo interminável. Ganhar mais dinheiro, fazer mais hits, ser o principal nos filmes – essas coisas talvez te estimulem, mas não te fazem feliz. Já passei por tudo isso antes, e estou te dizendo em primeira mão, não te fazem feliz.”
Quando ela abre a porta de casa, os cachorros de Cyrus correm e a cercam animados com sua chegada. Como seu estúdio, sua casa é bem hospitalar e simples – não há nada que sugira ser a casa de uma superstar. Há, no entanto, um bong de uns 5 pés de altura decorado e um vibrador coberto de puffballs rosa e vermelho, projetos de arte de Cyrus, e ela destaca: “O bong funciona.”
Vestida com uma roupa simples e curta, com os cabelos em um coque apertado, Cyrus vai até seu sofá na sala de estar, seu Chihuahua-dachshund, Bean, pula em seu colo. E enquanto Bean começa a lamber a ponta dos dedos dela, Cyrus expõe a sua visão do mundo em desenvolvimento, uma visão não tão distante dos valores que ela foi ensinada quando criança em Franklin, Tennessee, sendo filha do cantor country Billy Ray Cyrus e de sua mãe, Tish. Enquanto eles e seus cinco filhos foram programados, como disse Billy Ray, “artistas naturais”, eles também foram educados para serem gratos e cordiais, mesmo com sucesso e fama.
Ela admite que por sua família e por todo seu trabalho desde cedo ela nunca precisará trabalhar novamente. “É mais do que eu mereço“, diz ela, com humildade. “A questão é, o que é que eu vou fazer com ele? Eu não quero apenas sentar e guardar o dinheiro. Ou tentar ganhar mais.” Ela ri da idéia de ser obcecada por dinheiro.
“Eu provavelmente nunca serei a modelo de uma companhia tradicional de beleza a não ser que eles queiram uma fumante de maconha completamente liberal. Mas meu sonho nunca foi vender batom. Meu sonho é salvar o mundo.”
“EU ME SINTO COMO UM GAROTO DE 15 ANOS PRESO NO CORPO DE UMA GAROTA DE 22.”
Depois de anos de criação cerrada que seus pais tinham sobre os filhos, aquela visão de cristão do sul (“Meus pais interpretavam a Bíblia muito literalmente“), o ativismo social de Cyrus se ascendeu mais ainda quando, uma vez, comparecendo a uma premiação viu várias limusines estacionadas em um local onde haviam sem-tetos. Logo depois, em dezembro de 2014, a transgênero adolescente Leelah Alcorn cometeu suicídio e Cyrus disse: “Chega.” Em resposta, ela lançou a Happy Hippie Foundation em maio deste ano, uma organização com o propósito de criar consciência nas pessoas sobre adolescentes LGBT e jovens sem-teto.
Cyrus diz que ela sente uma afinidade com as crianças que foram marginalizadas pela diferença social que sofrem. E ela acredita que se não tivesse tudo o que ela tem, sua vida poderia ter sido um pouco diferente, ela poderia estar dormindo sozinha e invisível sob uma ponte: “Muitos de nós nascemos em alguma merda, você sabe o que quero dizer?”
“Ultimamente, tenho falado muito sobre o meu sexo. E algumas pessoas não gostam disso. Elas querem me julgar“, ela diz claramente. “As pessoas precisam de exemplos mais conhecidos, eu acho. Mas eu não ligo de ser essa pessoa.”
Intuitiva e muito exposta, Cyrus não é afetada pela crítica pública. Mas ela não vai permitir que as coisas passem do limite. Ela não está interessada em ser presa em uma gaiola. Ela acredita que as mulheres têm que ser cada uma de forma, tamanho, cor, idade, identidade e apetite, e não apenas o “padrão que faz com que as meninas se sintam realmente horrível.”
“Quando você olha para maquiagens retocadas, fotos perfeitas, você se sente como merda“, ela argumenta. “Eles clareiam a pele das meninas negras. Eles suavizam rugas. Até eu ficar presa no Instagram perguntando: Por que não me pareço com isso? É uma chatice total.” Cyrus demonstra opinião. “É uma loucura o que as pessoas decidam como nós devemos ser.”
Isso é o porque, quando ela pode, Cyrus deliberadamente mantém o status quo, deixando seus pelos da axila crescer, tirando selfies parecendo forte e realista, xingando fotógrafos que dizem que não reconhecem ela. Cyrus sabe que está em processo, o que, para ela, é a alegria da vida. E ela vai dividindo as mudanças e conquistas da sua jornada dando permissão para outras garotas serem o que quiserem se tornar e encontrar a felicidade assim, não na reflexão de uma cultura manufaturada que não parece nada com eles.
“Olha quem eu era 5 anos atrás”, diz Cyrus com um voz profunda. “Foda-se, 2 meses atrás. Eu sou diferente até nesse período. Se um dia eu tiver filhos, não quero me sentir ‘pra trás’. Política e espiritualmente. Nós temos sempre que estar aprendendo e evoluindo. Acho que as pessoas não fazem muito isso. Elas apenas ficam na zona de conforto.”
E se a ultima encarnação de Miley como ativista causa muito barulho para a população desconfortável, que seja. “É mais fácil ficar na caixa, por qualquer roupa que alguém nos disse para usar. Somos programados. Nos preocupamos com marcas. Te garanto que até os que não querem levantar a bunda pra nada sabem, lá no fundo, que correr pelado é bom e para genuinamente não se importar com o que os outros pensam.”
Aqui também. É algo que outras mega stars sentem falta – a piada que traz uma perspectiva de senso de humor principalmente quando se trata de um só. O clipe de “Bad Blood” da Taylor Swift é mencionado. “Não entendo a violência”, diz Miley. “Era pra ser um bom exemplo? E eu sou um péssimo exemplo porque ando por aí com meus peitos de fora? Não sei como peitos são piores que armas.”
Numa idade jovem, Cyrus parece ter descoberto uma verdade que ilude não só seus colegas, mas a maioria dos seres humanos: que a vida que nos foi concedida é divertida. E então talvez já aproveita agora. “Na minha turnê com meu escorregador de língua, eu estava apenas me divertindo.” Ela explica sobre a Bangerz Tour do ano passado e a apresentação polêmica no VMAs que causou milhares de comentários. “Só estou dizendo. Não vou me conformar com a sua merda.” Ela sorri. “Não é nada mais que isso.”
Miley Cyrus era uma pop star bem antes de ser uma pop star. Seus quase 5 anos de Hannah Montana na franquia de bilhões de dólares da Disney, já a fazia crescer com seus dentes que cresciam junto. “Naquela época que eu tinha 11 anos, era tipo ‘você é uma pop star, ou seja, você tem que ser loira, tem que ter o cabelo cumprido, por um pouco de gliter.’ Enquanto isso, sou essa garota frágil interpretando uma garota de 16 anos com uma peruca e toneladas de maquiagem.”
A meta da sua vida não está perdida: “me disseram por tanto tempo o que uma garota tem que ser, por ser do programa. Eu fui feita para ser alguém que eu não era, o que provavelmente causou minha disformia corporal, porque me fizeram tão bonita todos os dias por tanto tempo que quando eu não estava no programa, eu pensava ‘quem eu sou?'”.
Cyrus trabalhou o limite de 12 horas por toda sua juventude. Ela tinha aulas no set. Ela ficava sozinha por tanto tempo que sua mãe sugeriu levá-la para terapia de luz, devido ao distúrbio que a afetava em alguns períodos. “Toda a manhã empurravam café na minha garganta para eu acordar. Eu só tinha que continuar. Ser forte. Tudo comigo aconteceu no set.” (Inclusive sua primeira menstruação aos 15 anos enquanto usava jeans brancos. “Foi tão vergonhoso, mas eu não podia sair. E eu estava chorando, implorando pela minha mãe. ‘Você terá que por um absorvente. Terá que estar no set’.”)
Sua infância não foi apenas de uma ética de trabalho incomparável, mas também a ensinou que reclamar não tem espaço numa vida “charmosa”. Hoje que ela usa globos de balada nos peitos ou senta numa caixa de pizza usando um pijama rosa ou obtém um bunch de filosofia, mas uma coisa que Cyrus nunca fará é ser uma puta. (“Como poderia reclamar? Minha implicância é com a preguiça”). Ainda assim houveram consequências sobre ser uma criança famosa e mais reconhecida dos últimos tempos.
“Eu tinha ataques de ansiedade”, Cyrus confidencia. “Eu recebia descargas quentes, parecia que ia desmaiar e vomitar”, ela recorda uma reunião que se sentiu tão cheia que fingiu uma emergência de família para poder sair do prédio antes de perder a consciência. “Assim que cheguei no meu carro desmaiei.”
Cyrus teve um ataque parecido no Haiti, onde desmaiou no meio de uma multidão. “Isso aconteceria muito antes dos shows e eu teria que cancelar. Então a ansiedade começou a vir devido a ansiedade. Eu estava com meus amigos pensando ‘eu tinha que estar me divertindo mais’. Você entra nesse show e acha que nunca mais poderá sair.” Alguns anos atrás Cyrus encontrou um terapeuta. Agora quando a ansiedade ataca ela sabe lidar. Quando ela está com seus amigos agora ela sente uma genuína diversão, assim como era fazendo música ou alguma outra arte, livre de quaisquer preocupações comerciais. “Agora eu faço isso porque eu gosto e coloco isso em público porque tem pessoas lá fora que gostam também”, ela diz sobre sua nova vida.
Assim como seus planos para o novo álbum, ainda sem nome, através de um lado inteligente, radical, nada comercial em relação aos seus antigos esforços, ela, que será a apresentadora do VMA desse ano, pretende lançar suas músicas de graça. (Se a RCA estivesse contra esse plano grátis, ela estava preparada para sair da gravadora).
“Miley não liga para os dólares”, diz seu empresário Adam Laber, um veterano da música que também trabalha com Britney Spears e Avril Lavigne. “Ela faz seus próprios caminhos. Era uma vez, o que muitos artistas fizeram. Agora são poucas pessoas como a Miley.” Os conhecimentos de Laber mostram que tem um público com a percepção errada da cantora, mas ele diz que uma vez que entenderem que ela está vindo com curiosidade e empatia, a percepção irá mudar. “Miley poderia ter feito um álbum fácil com muitos produtores incríveis. E não fez. Ela fez algo autêntico.”
Durante um jantar na SoHo House, Cyrus diz que vai fazer uma tatuagem de um abacate amanhã para celebrar seu novo amor com a fruta. Ela faz tatuagens (ela perdeu a conta) tanto quanto mulheres pintam o cabelo: quando seu espírito manda. E é assim que Cyrus vive sua vida agora. Com sua própria identidade, sem vergonha, mas de forma doce, seu coração nos lugares mais certos.
Ela menciona Caitlyn Jenner, que é uma amiga. “Conversamos muito sobre como nunca conseguimos deixar todos felizes”, Cyrus diz. “Nós sempre rimos de pessoas que dizem que ela mudou para ser famosa. O que é louco!”
“Caitlyn tem que contar sua história porque, se ela não contar, alguém irá contar por ela. Se ela contar não tem muito mais o que alcançar com isso. Estou no mesmo ponto da minha carreira. Não estresso muito por estar por aí. Não tem nada mais para me pegarem fazendo. Você quer hackear meu e-mail para encontrar minha nudes? Eu mesma irei postá-las.”
Cyrus diz que amou homens e mulheres, que odeia a palavra bissexual, que antes de ela ir a público com o seu amor por mulher também os tablóides a ignoravam, o que achava hilário e sexista ao mesmo tempo. “Tipo quando apresentei a Joan Jett no Rock and Roll Hall Of Fame e eu disse ‘a razão pela qual estou aqui é porque quero foder a Joan’ todos riram porque acharam que era brincadeira” não era. (Ela diz que a sua suposta namorada Stella Maxwell é sua melhor amiga). “Tem muito sexismo, ou chame como quiser. Kendrick Lamar canta sobre LSD e ele é da hora. Eu canto e sou uma puta drogada.”
Por sua parte, Joan chama Cyrus de alma gêmea. “Miley não fica presa a nenhuma ‘entidade’ a não ser ela mesma“, observa Jett. Dos haters ela nota que “sempre terão pessoas que não entendem e se incomodam com isso. Miley parece não ter medo.” Ela especula que Miley ainda pode, inclusive, acabar na política.
Após pagar a conta de jantar, Cyrus dirige por Hollywood. Ela evitava dirigir devido aos seus ataques de pânico. “Agora vivo pra isso. A noite vou até Malibu apenas para pensar.”
Ela deixa ideias das faixas de seu novo álbum: uma música romântica pra uma antiga namorada, “o que não deve ser grande coisa“. E outra que ela escreveu assim que seu cachorro Floyd morreu. “Estou cantando, ‘I’m alive but I’m a liar’ e é sobre como nós fazemos nosso melhor para cantar para algo que nos faz sentir com menos medo.”
Cyrus escreveu todas as musicas – muitas em quartos de hotel com um microfone plugado em seu notebook. Ela dá a dica de uma terceira música. “Essa eu fiz na Austrália porque meu ex (ator Liam Hemsworth) é de lá, então estava muito inspirada“. A letra de uma quarta música “Bang My Box” é descaradamente suja, mas manhosa, um hino de poder feminino que não “bate no arbusto“. “Estou num ponto agora em que apenas digo tudo“, ela admite com orgulho: “a maior parte do tempo quando as pessoas me pedem um autógrafo, não comentam dos meus shows ou trechos musicais. Elas dizem ‘obrigada pelo que você luta’.”
Cyrus vira numa esquina com as duas mãos confortavelmente no volante. “E é por isso que eu continuo a não dar a mínima.” Ela segue para o escuro. “Por todos os outros rebeldes legais que estão por aí.“
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